X

Fale Conosco:

Aguarde, enviando contato!

A Adutora de Curitiba

['A Adutora de Curitiba]

Para entender o que me motivou a começar o registro de todas as estruturas arquitetônicas e as redes de captação de água de compõe o complexo dos mananciais, preciso contar como tudo começou.

Minhas visitas aos mananciais, era para fazer fotos do reservatório, das arvores do entorno e da beleza das flores.

Novamente tenho que mencionar meu grande e saudoso amigo, Sr. José Rocha de Barros, “Seu Zezinho” (já falecido), citado em várias outras estórias deste site.

Em conversas com Seu Zezinho sobre os mananciais, em sua casa lá na base do Morro do Canal, ele mencionava a “roça” onde a família fazia plantações. O caminho segundo ele, começava na estrada do manancial, nas proximidades da Vila Operária. Fiquei curioso para descobrir esse local.

Com essa informação, em 10 de maio de 2011, adentrei a mata seguindo as dicas de Seu Zezinho, para procurar a “estrada” para a roça. Tendo caminhado apenas 50 metros logo me deparei com um cano de grande bitola, quase totalmente encoberto pela vegetação rasteira.

Fiz algumas fotos e continuei na busca pelo caminho da roça, que acabei encontrando. Mas essa é outra estória, que está registrada neste neste site como "A Roça do Seu Zé".

No final de semana seguinte ao do dia 10, voltei a conversar com Seu Zézinho, mostrando as fotos da tubulação. Para minha surpresa, ele contou que aquela era a adutora por onde a água do Reservatório do Carvalho, era canalizada até Curitiba.

Foi grande a empolgação, por ter achado vestígios da famosa adutora que levava água até a capital do estado.

Com a informação de Seu Zezinho, com as fotos da tubulação e avaliando o mapa de 1929, também já citado em outras matérias deste site, comecei a entender por onde a linha da adutora estava assentada.

Com base nesses dados, acessei o Google Earth. Na imagem de satélite no ponto onde havia fotografado a tubulação, era nítido na imagem vista de cima da mata, que no passado teria havido interferência humana no local, pois era e ainda é possível observar uma “linha” por onde a tubulação está assentada.

Regressei novamente ao manancial e comecei a seguir a “trilha” na mata. Chamo de trilha, pois à época não havia caminho, mas como a vegetação era menos densa, sugeria que no passado o caminho era roçado com frequência.

Vale destacar que nesse ponto, a tubulação da adutora não está aparente, pois na sequência do local onde fiz a descoberta da adutora, o terreno apresenta uma elevação. Desta forma a adutora encontra-se embaixo da terra.

Continuei seguindo e na parte baixa oposta a elevação mencionada anteriormente, encontrei a adutora. Foi difícil distinguir a tubulação no meio da vegetação, mas foi excitante verificar que a estrutura se mantinha integra.

Pesquisando a respeito, descobri que a denominação para “depressão” do terreno é Talweg ou Talvegue, que é a linha mais baixa de um fundo de vale. Seu Zezinho definia essa depressão de relevo como “canhada”!

Como a manutenção com roçadas foi abandonada em 1979 quando a barragem do Cayuguava começou a se formar, a dinâmica do crescimento de taquaras, cipós, trepadeiras e pequenas arvores, acabou fechando o caminho.

Vale lembrar que em 2011 eu ainda não estava aposentado e a disponibilidade de tempo para as pesquisas era somente em um dos dias de final de semana. Desta forma a incursão no caminho da adutora de Curitiba foi demorada e penosa.

Para situar o leitor, a incursão inicial estava sendo realizada no sentido da Vila Operária para o Reservatório do Carvalho.

Foram vários meses para chegar até o Ribeirão do Salto. Neste interim, já tendo descoberto que no ponto denominado como “Chaminé de Equilíbrio” também fazia parte da adutora, iniciei uma investida no sentido contrário, da chaminé para a Vila Operária.

Conforme fui avançando nas duas frentes, várias descobertas foram registradas: tubulações suspensas em bases de granito e dois registros de descarga, que possibilitavam o conserto da linha da adutora.  Também encontrei uma pequena ventosa instalada na adutora, para saída do ar da tubulação.

Devido as características de relevo do local, muitas seções da tubulação estão enterradas. É fascinante pensar no trabalho braçal necessário para abrir caminho na mata, calcular a profundidade das valas onde seriam assentados os canos, para possibilitar que a força da gravidade levasse a água até Curitiba. Lembro que tudo isso foi realizado em 1906!

Outra descoberta importante, foi a da junção da linha do salto com a adutora de Curitiba, a única captação que não era direcionada para o Reservatório do Carvalho.

Um fato interessante é ter encontrado uma pequena torneira de bronze instada na adutora. A torneira é similar à de uso domiciliar e está em um ponto distante da vila, do rio do salto e da estrada do manancial. Deduzi que a utilidade era para o uso do pessoal que fazia a roçada do caminho, pois o local está longe de fontes de água potável para beber. Detalhe: ainda é possível beber água no local!

Mais um fato digno de registro: após o Ribeirão do Salto, no sentido do reservatório do carvalho para a Vila Operária, a tubulação está aparente e quando da descoberta deste ponto em 2013, parecia que os canos haviam sido colocados recentemente, pois apresentavam aparência de “novos”.

Tendo concluído essa etapa de junção do caminho entre a Vila Operária até a Chaminé de Equilíbrio, restava encontrar o caminho da adutora até a Reservatório do Carvalho.

Também neste caso, o mapa de 1929 foi crucial, pois a adutora cruza a estrada do manancial em dois pontos.

Novas descobertas foram realizadas neste pequeno trecho em novembro de 2014: dois registros de descarga, uma bomba carneirinho e caixas de água, que bombeava água para a casa do “feitor”.

Para o lado da Vila Operária, o mapa de 1929 indicava que a linha da adutora estava assentada logo a frente das casas, cruzando a estrada do manancial. Nesse local da estrada, em algum momento a partir de 2002, quando o ultimo morador deixou o manancial da serra, a tubulação foi cortada. Restos da adutora foram descobertos em 2014.

Uma adutora de pequena bitola foi instalada a partir do ponto de interseção da adutora na Vila Operária, fornecendo água para a Aldeia Araçai, localizada nas proximidades.

No local onde funcionava a Escola Rural Estadual Manoel Ribas, também é possível encontrar vestígios da adutora, cruzando a estrada do manancial e parte da tubulação embaixo de um frondoso cedro. Em fotos antigas da escola, também foi possível identificar que na frente do prédio, no passado havia um registro de descarga ou de manobra, utilizado nos processos de manutenção da rede de água.

Foram três anos de visitas para ter mapeado toda a região por onde a adutora de Curitiba está assentada no interior da área dos Mananciais da Serra.

Atualmente o caminho da adutora é utilizado por pesquisadores de universidades, para facilitar seu acesso a mata.

Com o advento da grande seca de 2020, foi possível registrar outra seção das tubulações cruzando a linha de água da Barragem do Cayuguava. Descobri que a linha original da tubulação foi alterada, pois uma linha antiga está preservada no local. Esta alteração no assentamento da tubulação pode ter sido motivada pela necessidade de colocação de tubulação sem seções de emendas, não necessitando de futuras manutenções, visto que ficariam embaixo da linha de água da barragem.

As fotos destas descobertas também estão documentadas neste site, em ACERVO FOTOGRÁFICO/ADUTORA DE CURITIBA.

Na foto deste relato, temos uma imagem do Google Earth, com a demonstração da linha da Adutora de Curitiba (linha na cor amarela).  No início da linha amarela a direita da imagem, é o Reservatório do Carvalho. A linha de captação da Caixa do Salto está demonstrada na cor verde clara.

A linha laranja é a estrada do Manancial. Nesta imagem também estão demonstrados os seguintes locais, da esquerda da imagem para a direita: Vila Operária, os quatro registros de descarga, uma ventosa e o local da bomba carneiro.

O ponto de início dessa estória, está marcada na imagem como “Primeira Descoberta”.

Para entender toda a grandeza da arquitetura e do patrimônio histórico da adutora, convido-os a verem as fotos publicadas neste site em: ACERVO FOTOGRÁFICO/ADUTORA DE CURITIBA

Piraquara, 18 de setembro de 2021.