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Detalhe do Acervo: Diário da Tarde - Edição de 04/11/1967 - Pg 3

Autor: José Carraro
Titulo: Diário da Tarde - Edição de 04/11/1967 - Pg 3
Data da foto: 04/11/1967
Categoria: SADIA - Queda de Avião
Sub-Categoria: N/A

Transcrição da Página 3 – Edição de 04 de Novembro de 1967.

 

Avião Espatifa-se na Serra com 26 a Bordo

Teriam parecido os vinte e seis ocupantes do avião Dart-Herald, prefixo PP-SDJ, da “Sadia S/A – Transportes Aéreos” que, ontem pela manhã, se chocou contra a face leste do “Pico Marumbi”, na Serra do Mar, a 10 minutos de vôo do Aeroporto Afonso Pena, quando procedia de São Paulo.

O acidente deu-se entre às 9.45 e 10 horas, instantes após o piloto da aeronave haver mantido contato com a torre daquele aeroporto e solicitado instruções para pousar. Possivelmente perderam a vida 21 passageiros cuja maioria estava em trânsito para Londrina, e os cinco tripulantes do avião, que tinha como comandante um comandante um ex-coronel da Força Aérea Brasileira, João Luiz Sá Freire de Faria, tido como um dos melhores pilotos paranaenses. Destroços do turbo-hélice foram avistados por elementos da FAB, que sobrevoaram o local num helicóptero, além de integrantes da SADIA, os quais utilizaram um avião. Tudo leva a crer que não hajam sobreviventes, dadas as condições em que ocorreu o acidente, presumindo-se ter um tornado de 90 quilômetros horários sido o causador de tudo.

 

PASSAGEIROS

Às 9,20 horas o “Dart-Herald” deveria aterrissar no Afonso Pena. Porém há cinquenta quilômetros desta Capital, perdeu o controle com a torre dando-se, então o desastre. Encontrava-se a bordo da nave aérea os passageiros: Michel Saad; Dídimo Veiga; Enio F. Mansur; Caubi Tavares; Silvia Tavares; Marco Tavares; e Gisele Tavares; Osvaldo Ramos; Armando E. Cajueiro; Elisa Cedro; Florinda Maianaze; Amadeu Coggio; G.C. Morais; Alcyr A. Silveira; Oleg Svianghim; Clarice Çagliundo; Gregório Tenfel; Airton Mugnain e Luiz A. Menezes, funcionário da empresa proprietária do avião, cuja capacidade era para 50 passageiros, tendo sido recentemente adquirido.

Tinha como comandante o piloto João Luiz Sá Freire de Faria, co-piloto, Ivan Joaquim da Costa, radiotelegrafista Leildo Cardoso e comissários Antônio Simão Jorge Dib e Roberto Monteiro da Fonseca.

 

LOCALIZAÇÃO

Horas mais tarde, às 15,15, vários aviões deslocavam-se de Curitiba em busca do “Dart-Herald” desaparecido. Trinta minutos após o mesmo era avistado, completamente destroçado; nos Mananciais da Serra, nas imediações do Marumbi, por militares que ocupavam helicóptero da FAB. Estrava com os motores destruídos e parte da fuselagem ainda intacta. Caso o piloto tivesse elevado a aeronave mais doze metros, esta teria ultrapassado a Serra do Mar, na opinião dos pilotos que sobrevoaram o local em que se deu o choque.

Já às 16,15 horas uma equipe de militares, pertencente a Companhia de Operações Especiais – COE – da Policia Militar do Estado – partia em busca do turbo-hélice sumido. Por volta das 16,30 horas outro grupo de milicianos atingia a base do Morro da Represa, em contudo localizá-lo.

Eram 17 horas quando o helicóptero prefixo 853, do Serviço de Buscas e Salvamento da FAB sob o comando do Major Albert, deixou o aeroporto Afonso Pena, para minutos mais tarde sobrevoar a senda do sinistro. Como o local é de difícil acesso, aquele militar acredita que só hoje alguém conseguirá aproximar-se dos destroços e prestar socorros aos possíveis sobreviventes. Uma caravana da “SADIA” deverá hoje ainda alcançar a clareira onde corpos foram também avistados.

 

DÚVIDAS

Até às 2 horas da madrugada de hoje existiam dúvidas sobre a sobrevivência ou não dos passageiros e tripulantes. Na opinião do pessoal da SADIA não é possível afirmar se existe explosão. Hoje, a partir das cinco horas, aviões terão mais condições de sobrevoar o local e constatar a amplitude do acidente. Por seu turno, o gerente da “SADIA” não se deslocou para a Serra do Mar, ficando em Curitiba para prestar assistência aos parentes das vítimas. Informou que nos últimos dois anos não ocorreu nenhum acidente com aviões da empresa que administra.

 

BOLETIM

Às 20 horas de ontem, o sargento Alcides, do Serviço de Proteção ao Vôo do Aeroporto Afonso Pena esclarecia que, segundo boletim recebido diretamente dos mananciais da Serra do Mar, três equipes de peritos em resgate da Seiva – do Corpo de Operações Especiais da Policia Militar do Estado do Paraná, da Policia Marítima de Paranaguá e do Serviço de Busca e Salvamento da FAB – prosseguiam na escalada, tentando encontrar o local exato onde caiu o “Dart-Herald”, que foi encontrado no Pico “Marumbi”, numa altitude de 1.500 metros. Por outro lado, prosseguiam, na madrugada de hoje, os trabalhos de busca e salvamento, com todos os recursos próprios par resgates noturnos. No boletim enviado pelos empenhados nos serviços de resgate, há esperança de sobreviventes.

 

TORRE

Por volta das 9,22 horas de ontem, obedecendo as normas do manual de tráfego aéreo (Manav) o piloto do “Dart-Herald” acidentado chamou a torre de controle de Curitiba quando seus instrumentos acusaram o radio farol de Paranaguá. Nessa ocasião, o controlador de vôo Elmar Batista Moreira, também seguindo as normas padrões, determinou que a aeronave fizesse noventa graus rumo a Curitiba acusando a radial pré-estabelecida. Quando o piloto a acusasse, era indício que a aeronave já teria cruzado com bastante margem de segurança o ponto crítico da Serra do Mar. Momentos, após o piloto dava a radial pré-estabelecia, tendo o controlador o instruído para baixar ao nível 50 (5.000 pés, 1500 metros). Essa altura é inferior a certos pontos da Serra do Mar.

Todavia, se os instrumentos do avião não falharam, e se o piloto agiu dentro das normas, deveria estar em região fora de perigo. Logo em seguida o comandante do “Dart-Herald” dizia estar sobre Curitiba, pronto para a aterrisagem. O controlador estranhou porque não avistara o avião, fornecendo, então, as instruções para o pouso. Dois minutos após, a torre chamou o comandante Faria, não obtendo resposta. Cinco minutos mais tarde acionava o Serviço de Busca e Salvamento, pois naquele instante o PP-SDJ já era dado como desaparecido.

 

FUSELAGEM DA CAUDA PERMANECE INSTACTA

O aviador Alamir Garbuio piloto há vinte anos, que sobrevoou, ontem às 15:15 horas, o local do acidente sofrido pelo avião tipo “Dart-Herald”, prefixo PP-SDJ, da “SADIA S. A. TRANSPORTES AÉREOS”, afirmou à uma hora de hoje, que o aparelho caiu exatamente na plataforma de um morro ao lado do Pico “Marumbi”, na Serra do Mar, onde se encontram os seus destroços, incluindo uma parte da fuselagem da cauda, com cinco metros de comprimento, que poderia abrigar algum sobrevivente.

O piloto Garbuio, da “BOA BRASIL ORGANIZAÇÃO AÉREA S. A.”, declarou que, ao sobrevoar o avião sinistrado, a trinta metros do local do acidente, constatou que, numa larga extensão, se encontravam pedaços do aparelho, bem como corpos de alguns dos vinte e um passageiros e dos cinco tripulantes. Segundo seu depoimento, a avião está completamente destruído, com exceção da fuselagem e da cauda.

 

FOTOGRAFIAS

Relata o sr. Garbuio que, sobrevoando o local do desastre, em companhia do sr. Rui, administrador do Aeroporto Afonso Pena, permitiu ao sr. Luis Caros Andreasi tirar oito fotografias dos destroços, os quais representam uma prova contundente de que bem remotas são as possibilidades de sobrevivência.

 

O AVIÃO

Diz o informante que o avião “Dart-Herald”, prefixo PP-SDJ, tinha capacidade para cinquenta passageiros e desenvolvia uma velocidade média de 450 quilômetros horários, sendo um dos mais novos aparelhos da “SADIA S. A. TRANSPORTES AÉREOS”. E o seu controle de manutenção e preservação técnica tem sido dos mais cuidadosos por se tratar de avião de carreira. Isto não elimina, no entanto, a hipótese de que o aparelho possa ter suas duas turbinas em pane por falta de querosene.

O sr. Garbuio apnta, ainda, outras causas da queda do aparelho. E conta que, numa versão autêntica, entre nove e trinta e nove e quarenta e cinco horas de ontem, no litoral, próximo a Paranaguá, a 13.000 pés de altitude – ou 3.900 metros de altura -, quando recebeu instruções do Serviço de Proteção ao Vôo do Aeroporto de Afonso Pena para aterrissar nas adjacências e Curitiba. Foi, então que o aparelho desceu à altitude de 2.100 metros e foi atingido por forte vento de noventa quilômetros horários, tendo um falso bloqueio na Serra do Mar. O comandante do avião teria calculado, na ocasião, que se encontrava nas proximidades do Aeroporto de Afonso Pena, mas em verdade sobrevoava um morro ao lado do Pico “Marumbi”, quando se deu o acidente fatal. Outra versão, ainda, aponta um defeito nos altímetros como causa do acidente. Esta, porém, não é aceita pela experiencia do sr. Carbuio.

 

Fonte da Pesquisa: Diario da Tarde – Arquivo Digital – Biblioteca Nacional Digital Brasil.

http://memoria.bn.br/hdb/periodico