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Detalhe do Acervo: Diário do Paraná - Edição de 07/11/1967 - Caderno 2 - Pg 8

['Diário do Paraná - Edição de 07/11/1967 - Caderno 2 - Pg 8  ]
Autor: José Carraro
Titulo: Diário do Paraná - Edição de 07/11/1967 - Caderno 2 - Pg 8
Data da foto: 31/12/1969
Categoria: SADIA - Queda de Avião
Sub-Categoria: N/A

Transcrição da Página 8 do Segundo Caderno – Edição de 07 de Novembro de 1967.

 

IDENTIFICAÇÃO DOS CORPOS FOI DIFÍCIL

Retirado por equipe do Corpo de Operações Especiais da Policia Militar, comandada pelo major Hélio Meirelles, até o pé do Morro da Represa, 11h30m, terminou o transporte até a Base Aérea do Bacacheri. Todos os vinte corpos passaram a ser identificados pelos médicos-legistas da FAB, que às 14 horas de ontem encerraram também seus trabalhos. Apenas o co-piloto Ivan Joaquim da Costa não possuía identidade consigo, mas foi reconhecido pelo pessoal da Companhia em seu uniforme de tripulante.

Os corpos foram enviados para o Rio, São Paulo, Porto Alegre, Irati, Tubarão e Pirai do Sul. Um “Dart-Herald” da Sadia (irmão gêmeo do PP-SDJ acidentado) e um Beah da FAB levaram os corpos para Guanabara, São Paulo e Rio Grande do Sul, respectivamente.

 

Identificação

Três dias após o acidente, com exceção do co-piloto, todos os outros mantinham documentos consigo o que facilitou a identificação dos cadáveres. São os seguintes os corpos e o destino que tiveram: para São Paulo foram enviados Airton Mugnani, Luis Alves Meneses, Osvaldo Ramos, Calvi Tavares, Marcos e Gisele Tavares (estes três por ambulância, e o restante pelo “Dart”), Amadeu Borgio, Clarice Carvalho Pagliasso, Geraldo Cesar de Moraes (dado como não embarcado no PP-SDJ, e identificado como morto). Para a Guanabara: co-piloto Joaquim da Costa, comandante João Luis de Sá Freire de Faria, comissário Antônio Simão Jorge Dib, Dídimo Affonso Agapito da Veiga, Michel. Ferras da Veiga, Elisa Cedro e Maria José Cedro (estas últimas duas velhinhas). Para Irati, foi enviado Alcy Antônio Xavier da Silveira. Para Porto Alegre, médico Ennio Flávio Mansur. Para tubarão, Santa Catarina, Gregório Nilo Tefeld e para Piraí do Sul, dona Florinda Maianese.

 

Onde Está Loper?

Informou-se às 20h30m de sexta-feira que o sr. Ailson Loper, ex-fiscal de Aeroporto, tinha entrado no PP-SDJ, minutos antes de decolar de São Paulo. Posteriormente a informação divulgada por jornalistas paulistas diziam que o sr. Loper tinha trocado a passagem para vir a Curitiba com o sr. Geraldo Cesar de Moraes, que  ficara em São Paulo. Entretanto, o sr. Geraldo Cezar de Moraes, foi encontrado morto no alto do Morro da Represa, e as informações dadas pela FAB, COE e SADIA dizem não ter sido encontrado o corpo de Ailson Loper, e como consequência estaria ele vivo em São Paulo.

 

O Caso dos Dezenove

O tenente Danilo ao passar o radiograma para o ministro da Aeronáutica, Brigadeiro Marcio de Souza Mello, informando-o sobre as operações de resgate total das vítimas, só citou dezenove pessoas como identificadas, o mesmo acontecendo na informação dada do DP. Faltava a senhora Florinda Maianese, que poderia estar também viva.

O capitão Sofonias, contudo, encontrou sua identificação, após, entre os cadáveres vindo a confirmar o total de 20 mortos resgatados, mais o sr. Oleg Scianghim, que faleceu no Hospital Moisés Lupion da Policia Militar. Seu corpo foi transportado no domingo a São Paulo.

 

Certidão Atrasa

O “Dart-Herald” que transportou os corpos de 16 dos mortos no acidente da Serra do Mar, atrasou-se durante hora e meia, tendo partido somente às 18h05m de ontem. O fato prendeu-se a que os médicos legistas não haviam elaborado a certidão de óbito de todos os vitimados.

Entretando, o “Beach” da FAB, que levou os corpos de Ennio Flávio Mansur, para Porto Alegre, e Gregório Nilo Tefeld para Tubarão em Santa Catarina, partiu às 16 horas da base do Bacacheri.

Todos os cadáveres estavam acondicionados em urnas de alumínio, tendo a reportagem do DP, na capela da EOEG, notado a expressão de horror no rosto de dona Clarisse Carvalho Pagliasso, através do vidro existente no acondicionamento hermeticamente fechado.

 

Médico Quer Equipe de Socorro Urgente

Na opinião do major-médico Joglas Cordeiro diretor geral do Hospital Moisés Lupion (da Policia Militar do Estado do Paraná), onde estão internados dois sobreviventes do desastre aviatório, Roberto Monteiro da Fonseca (comissário de bordo) e Armando de Freitas Cajueiro (homem de negócios), “ambos apresentam complicação pulmonar provocada pelo período em que ficaram expostos à chuva, frio, sem agasalhos”. Disse ainda que apresentam sensível melhora, “sem no entanto, estarem fora de perigo. Pelo quadro clínico, a impressão é que há probabilidade de sobreviverem, inspirando cuidados”.

Declarou também que o internamento dos acidentados foi feito cerca de 30 horas após o desastre, contando com a mobilização de todo o serviço médico do hospital. Um corpo clínico foi formado, integrado por 12 médicos e especialistas de outros hospitais, tais como os médicos José Ratton, Milton Moreira e Carlos Moreira. Os médicos estiveram reunidos por duas vezes no domingo último e face as condições de gravidade dos pacientes, determinaram um atendimento programado e constante observação.

 

O Atendimento

Contou ainda o médico Joglas Cordeiro que o engenheiro Olleg Scianghim, que faleceu na noite de sábado passado, tinha o tórax esmagado, rotura dos pulmões e fratura exposta nos membros inferiores. Seu estado aparente era bom e deu entrada no hospital falando normalmente, isto por ter recebido medicação na serra, com aplicação de soro. Resistiu o ato cirúrgico, sendo operado por volta das 16 horas, vindo a falecer 5 horas após.

Considerou o médico da Policia Militar do Estado que se houvesse a possibilidade de retirar os sobreviventes com maior brevidade do local do acidente, a recuperação seria mais satisfatória e que também poderia haver a possibilidade de um maior número de sobreviventes. Lembra também a importância da formação de um serviço médico de urgência, com material e condições de rápida locomoção, para “que nestas ocasiões o trabalho assistencial seja eficaz”.

 

CAPELÃO REVELA QUE HAVIA MAIS 3 VIVOS

“Às nove e meia da manhã de sábado, ministrei os Santos Óleos a quatro sobreviventes no Alto do Morro da Represa, entre os quais estava o Sr. Olleg Scianghim, que só veio a falecer em Curitiba. Todos estavam ainda plenamente conscientes quando o sacramento foi ministrado, tendo falecido em seguida”. A declaração é do padre capelão da EOEG, Donald Toner, ao DP, deixando entrever com isso que se os socorros tivessem chegado poucas horas antes, oito sobreviventes poderiam ter sido retirados do local, e talvez continuassem vivos.

Relatou o padre-capelão, que com alguns, ainda pode trocar algumas palavras antes de virem a falecer 24 horas após ter ocorrido o acidente com o “Dart-Herald”.

 

Corrida com Tempo

O Corpo de Operações Especiais chegou ao pé do morro da Represa, às 19 horas, sendo que de madrugada estavam a duzentos metros do local da tragédia. Muitos ouviam os gemidos e batidas dos vitimados, mas pouco puderam fazer.

Na realidade, somente pela manhã os primeiros socorros vieram a ser prestados, e ainda assim precariamente pois o pessoal que escalou a montanha não estava aparelhado com material cirúrgico, analgésicos, morfina ou soro, o que provocou, mesmo depois da chegada do pessoal de busca e salvamento, por terra, a morte ainda de alguns sobreviventes do acidente. O helicóptero do SAR só veio a recolher os primeiros quatro sobreviventes às 11h40m, ou seja, 26 horas após a queda do “Dart-Herald”.

 

Assim Passam os 4 Sobreviventes.

Os quatro sobreviventes da tragédia no Morro da Repesa estão internados no Hospital Central de Curitiba e no Hospital “Moisés Lupion”. Apresentam-se em melhores condições. As autoridades médicas, em virtude do estado de alguns deles, não estão permitindo o acesso da imprensa aos mesmos.

Eis a situação de cada um:

Leildo

O rádio-operador Leildo Cardoso que se encontra internado Hospital Central de Curitiba, será operado hoje à tarde e apresenta fraturas no rosto, nos ossos do maxilar superior, como também fratura na clavícula direita, além de ferimentos e contusões generalizadas.

Segundo médicos que lhe estão prestando assistência, apresenta recuperação satisfatória, estando fora de perigo, muito embora desse entrada naquele hospital em estado grave. Seus familiares estão acompanhando a assistência médica, sendo aguardada para hoje sua esposa, que se encontra no Rio de Janeiro.

 

Dona Silvia

Da. Silvia Tavares que apresenta melhor quadro clínico, também está sendo medicada no Hospital Central de Curitiba, onde já foi operada. Apresentava ferimento no membro inferior com luxação no fêmur direito; fratura na clavícula esquerda e contusões generalizadas. De acordo com o parecer médico está totalmente fora de perigo e se restabelece satisfatoriamente.

Entretanto, continua em choque nervoso, falando ininterruptamente, principalmente sobre seus dois filhinhos e marido que pereceram no acidente. Seus familiares acompanham seu estado de saúde e, ontem, velaram na capela do hospital, os cadáveres dos garotinhos e sr. Calvy Tavares. O atendimento médico no Hospital Central de Curitiba está sendo supervisionado pelo tenente-coronel médico Fernando Ferreira de Carvalho.

 

Cajueiro

O homem de negócios Armando de Freitas Cajueiro, que também está no Hospital Moisés Lupion, apresentava ontem melhora sensível, sem no entanto estar fora de perigo. Apresentava ferimentos generalizados na base do crânio, além de complicação pulmonar. Estes dois últimos quadros são os que mais preocupam os médicos. Ainda ontem apresentava-se inconsciente e não tinha sido submetido à intervenção cirúrgica.

Em consequência de hemorragia, apresentava edema que segundo os médicos será absorvida gradativamente de acordo com a medicação aplicada. Apresenta também preocupação pulmonar, face a umidade, chuva e frio a que ficou exposto. Seus irmãos, Renato e Romeu Freitas Cajueiro, encontram-se em Curitiba, acompanhando o estado de saúde de seu irmão.

 

Roberto

O comissário de bordo Roberto Monteiro da Fonseca, que está internado no Hospital Moisés Lupion, apresenta um quadro clínico – segundo seus médicos – satisfatório. Seu ferimento mais grave é no crânio, na região temporo-parietal. Sofreu fratura exposta no membro inferior, no braço direito e nos dedos. Deu entrada no hospital em estado agonizante e até o dia de ontem, não tinha sido submetido a cirurgia, face sua reação satisfatória. Encontra-se, ainda, inconsciente, recebendo medicamento anestésico e curativos nas fraturas.

Em princípio, os médicos chegaram a pensar em amputar a perna direita de Roberto Monteiro, face ao grande período em que ficou sem atendimento médico. Entretanto lhe foi medicado 1 litro e meio de soro e sangue, tendo reagido bem e sua perna, foi colocada em posição correta, não sendo necessário amputá-la. Embora continuando em estado de choque, ontem pela manhã, balbuciou algumas palavras, chamando pela mãe e colegas. Possivelmente hoje será submetido à operação na perna direita e, dependendo da recuperação, será operado no crânio.

 

Fonte da Pesquisa: Diario do Paraná – Arquivo Digital – Biblioteca Nacional Digital Brasil.

http://memoria.bn.br/hdb/periodico