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A DESCOBERTA DA CAIXA DO MICO

['A DESCOBERTA DA CAIXA DO MICO]

Quando iniciei as caminhadas pelos mananciais minhas “ferramentas” de pesquisa de campo era um mapa, gentilmente fornecido pela Ana Cristina, então gestora do CEAM. Infelizmente o mapa foi extraviado numa das caminhadas na serra. A outra fonte de informações ou a mais preciosa delas, eram as dicas do Seu Zezinho (já falecido).

 

Seu Zezinho, como já mencionei em várias descrições deste site, foi antigo morador dos mananciais e também trabalhou na manutenção dos sistemas de captação da serra.

 

Nas indicações das represas ou caixas constantes daquele mapa, após a Caixa Carambolas, a indicação era a Caixa do Mico. Seguindo pela Estrada do Ipiranga após a Sanga Carambolas, o próximo curso de água que corta a estrada, é o rio do Mico.

 

Neste ponto, a minha dedução foi subir o curso do rio a partir da estrada, no sentido a direita da estrada do Ipiranga (para quem está seguindo para o Ipiranga), tentando encontrar a represa. Após caminhar aproximadamente 50 metros, descobri uma estrutura que lembra uma pequena barragem, deduzindo ser a Caixa do Mico.

 

Essa descoberta foi em abril de 2011. Considerando já ter achado a estrutura existente no rio do Mico só fui dar conta do erro em 2012 lá no Morro do Canal, na residência do Seu Zezinho. Mostrando as fotos daquela que supunha ser a caixa do mico, Seu Zezinho me confidenciou que a represa ficava abaixo da estrada do Ipiranga, no lado esquerdo da via, totalmente oposto do local que eu havia encontrado.

 

Seu Zezinho me indicou que o caminho para a caixa deveria estar fechado e que a mata havia tomado conta da via de acesso. A dica foi achar o marco do KM 2. e descer pela mata até achar o curso do rio do Mico.

 

Em junho de 2012 tendo encontrado o marco do quilometro 2 na Estrada do Ipiranga e sem nenhum referencial a não ser a utilização de uma  bússola tentando manter uma linha reta na caminhada, iniciei uma “trilha” na densa vegetação.

 

Como já era época de frio, o risco de encontrar jararacas era bem menor. Mas a incursão foi tensa e penosa pois o local era muito fechado pelos cipós, taquaras finas e cortantes, espinhos, solo muito irregular composto principalmente por galhos podres, etc.

 

Mas após uns 100 metros dessa tentativa de achar uma rota viável, comecei a ouvir barulho, similar a uma queda de água. Bom, deduzi ser o fluxo do rio do Mico. Estava no “caminho certo”. Segui esse “guia” sonoro e encontrei um local que lembrava uma vala em linha reta. Não era um caminho natural. Continuei seguindo o som da água e encontrei uma estrutura de cimento, já demolida pela erosão, mas que de parte dela ainda saiam duas tubulações jorrando água. Era o som que me guiou até este ponto.

 

Voltando a consultar o Seu Zezinho e mostrando as fotos do local, meu guru indicou que a minha descoberta na verdade era de um ventilador, estrutura que tinha a função de retirar o ar do sistema de encanamentos.

 

Como caixa do mico ainda não se revelara retornei ao local, desta vez seguindo a tubulação existente após o ventilador demolido. Parte desta tubulação era de PVC azul, unida posteriormente a uma tubulação de metal. Deduzi que a linha original havia sido substituída por cano de PVC em alguma manutenção realizada em décadas passadas.

 

Seguindo o caminho da adutora, mais ou menos uns 200 metros após o ventilador demolido, finalmente encontrei o rio do Mico. Isto foi em Agosto de 2012.

Essa descoberta foi muito gratificante, pois a adutora cruzando o rio ainda é de tubos de cerâmica, da época da construção da adutora original, em 1908.

As manilhas estão assentadas sobre trilhos que devem ter sido utilizados em minas devido a sua pequena bitola.

 

A próxima dedução para encontrar a Caixa do Mico foi lógica. Como a Adutora principal não poderia estar acima da represa, era só seguir pelo leito do rio e foi o que fiz, encontrando logo a adutora de captação da caixa, uma linha de canos de PVC.

No final dessa linha (na minha perspectiva, pois estava subindo o leito do rio), finalmente encontrei a represa. Estava redescoberta a Caixa do Mico.

Isso foi no dia 3 de Agosto de 2012, as 13:04. Não consigo transmitir neste texto a alegria do encontro, apenas que foi uma grande aventura ter chegado a essa estrutura, que estava escondida na mata há muitos anos.

 

Depois desta data ainda voltei na represa pela trilha do KM 2 por algumas vezes. Tentei seguir a adutora a partir da junção da linha de captação da Caixa do Mico com a Adutora do Carvalho, não sabendo ainda que esta linha seguia até a Caixa Carambolas.

 

Em 2014 o Seu José de Castro Barros (Seu Zezo) também antigo morador e que trabalhou no sistema dos mananciais, realizou a reabertura desse caminho entre as duas Caixas, mas esta é uma outra estória.

Quanto a primeira descoberta acima da Estrada do Ipiranga, mais tarde consultando os documentos antigos descobri que se tratava de uma "caixa de areia", estrutura que havia sido construída em 1910 para reter detritos que poderiam assorear a represa abaixo no rio do Mico.

 

Piraquara, 10 de Junho de 2020.