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Jornal A Noticia

Transcrição da Edição de 30 de Novembro de 1906 – Pg. 1

                 O Saneamento

                Venceo-se hoje, o prazo para o pagamento do imposto de agua e exgotto: a população curitybana mais uma vez contribue para o custeio de uma obra que parece codemnada a perpetuar-se em construcção, uma vez que o governo do Estado não se mostra inspirado do desejo de solver a embaraçosa situação em que se acha esse importante serviço.

            Somos daqueles que pensam que uma cidade como Curityba não pode dispensar um completo saneamento, não pode adiar a introducção dos serviços de fornecimento d’agua aos domicílios acompanhado de uma boa rede de exgotto.  Não há quem desconheça os inconvenientes actuaes do systema adoptado: a cidade luta com a falta de agua potável e com o atrazado serviço sanitário que tão má impressão causa aos nossos visitantes, ao mesmo tempo que é um elemento capaz de concorrer para a propagação de infecções, mormente na estação calmosa.

            Não combatemos o melhoramento: condemnamos, porém, o processo pelo qual foi contractado e está sendo levado a efeito, com completa inobservância das prescripções contractuaes.

         Ainda, agora, chegam-nos informações as mais graves sobre a estabilidade das obras levadas a efeito na Serra, pois a principal repreza que fora extra-officialmente inaugurada está a reclamar uma vistoria rigorosa. Ao que nos consta, apezar de estanque, esse reservatório enche-se num dia e no dia seguinte não apresenta agua alguma.

            Este consta assume graves proporções: consignamol-o como mero boato, a titulo de advertência ao sr. dr. vice-presidente do Estado para que mande proceder o necessário exame, uma vez que a fiscalização do serviço corre a completa rebellia, não obstante as continuas e repetidas reclamações da imprensa.

            Não nos surprehende este boato: tal tem sido a incúria da fiscalisação, a complacência do governo em relação à empresa, que não é para admirar esse resultado negativo e desastroso das obras dos reservatórios.

          E, no entanto, a população curitybana ahi vae, com sacrifício, dar mais uma vez prova dos bons desejos e da paciência de que se acha armada, concorrendo à bocca do cofre, com essa contribuição especial, que não tem razão de ser uma vez que o melhoramento está condenado e que os erros e desperdícios da administração não devem correr por conta do único município, mas sim por conta de todo o Estado, que a elegeo.

       É tempo de resolver-se esse grave problema que não deve permanecer como uma interrogação dolorosa perpetuamente. A população curitybana tem, sem duvida, o direito de exigir do governo o melhoramento para o qual tem concorrido com contribuições sucessivas; mas uma vez que esse melhoramento não se objetiva, assiste-lhe igualmente o direito de reclamar contra o tributo, que deixa de ter razão de ser.

         Perpetuar esse estado de cousas é abusar da paciência e da resignação do povo.