Saneamento
Partiu o sr. Alvaro de Menezes...
Depois de ter procurado subtilmente embahir com informações inexactas e falsas promessas, o espirito publico, s.s. retirou-se do nosso Estado, escarnecendo, talvez, deste pobre povo que agora ahi está golpeado fundamente nos seus melhores interesses.
Alias era de esperar esta retirada “ex abrupto”; o procedimento do sr. Alvaro de Menezes não sorprehendeu a mais ninguém: já se contava que quando s.s. resolveu por fim vir ao Paraná, tinha por objetivo unicamente conseguir do Estado os 120 contos de que temos nos occupado e jamais prosseguir nos serviços do saneamento.
O que não se esperava, porém era que o sr. dr. João Candido abrisse facilmente os cordéis do Thesouro, para saciar a ganancia de quem até se nos afigura um aventureiro.
De resto, o forte lastro de responsabilidades que tem surgido nesta malfadada questão das aguas e esgotos, não cabe somente aos srs. Alvaro de Menezes e Octaviano Machado: o governo, desde a assignatura desse infeliz contracto, feito sem concurrencia, sem a devida cautela para com os dinheiro públicos, tem delle uma grande parcella.
Onde se viu um serviço de tão alta monta ser contractado sem exigência de maiores garantias? O resultado foi este: entregou o Estado nas mãos dos empresários cerca de 5 mil contos e as obras estão em considerável atraso e falhas de observância às precripções technicas.
O modo sem escrúpulos por que foram iniciados os trabalhos, mostrava claramente que os contractantes haviam preconcebido o plano de não leval-as a termo. Com efeito, o que se viu ahi, assentado pelas ruas, para o esgoto; o que se presenceia na linha adductora com a colocação de canoa à superfície do solo e tantos outros abusos de que temos tratado, tudo isso prova de maneira irrefragável, que a laboriosa população paranaense se encontra emmanharada em ruidoso panamismo.
Não declamamos, e o próprio governo não é extranho às graves irregularidades notadas; e si não fossem ellas um facto patente aos olhos do publico, poderíamos amontoar provas e até os próprios cartórios nol-as forneceriam:
No requerimento que a viúva Torres solicitava uma indemnização da Empreza, os advogados da peticionaria mostraram à sociedade a imprestabilidade do serviço de canalisamento, patenteando que a fiscalisação condemnara parte desse serviço, visto como o assentamento dos canos da linha aductora não obedecera às determinações do contracto, na parte em que estabelece a profundidade em que deviam ficar aquelles canos.
Na acção de indemnização de Jorge Grossel consta uma vistoria em que serviam de peritos os engenheiros Carlos Pimentel, Niepce da Silva e Lange, tendo declarado estes profissionaes que os serviços de assentamento de manilhas para esgoto foram feitos em completo desaccordo com as exigências technicas.
O serviço da rua Liberdade foi impugnado publicamente pelo chefe da fiscalisação do governo (facto presenciado por diversas pessoas) sem que a Empreza ligasse a menor importância a essa impugnação.
Tem se esbofado o orgam official em dizer que tudo vai bem, que tudo corre às mil maravilhas; mas, infelizmente desta feita perdem os collegas o seu latim. Contra os factos não há argumentos e o povo está assistindo bestializado (é o caso de se dizer) ao doloroso malbaratar dos dinheiros públicos, já não se illude mais.
Os homens do trabalho, os que pagam onerosos impostos, os que arrancam o produto de seos esforços para satisfazer exigências do fisco, - esses são os que naturalmente brandam contra os desmandos havidos.
Não o fazem aquelles que tem pingues ordenados e vivem fartamente na atmosphera governamental; estes representam perfeitamente o seu papel achando, como o Candide, de Voltaire, que tudo vai pelo melhor....