Saneamento
Que nos perdoe o sr. dr. Alvaro de Menezes, mas nós não podemos nos furtar de deixar aqui consignada toda a decepção que nos causou o arrazoado por s.s. publicado na “Republica”, com o intuito de esmagar as a accusações feitas à Empresa de Saneamento.
Esperavamos, com franqueza, que s.s., profissional como é, e dos mais competentes, segundo acreditamos, produzisse alguma peça mais habilmente laborada, de sorte a nos deixar mettidos em sérios embaraços, a nós que só sabemos argumentar com o que vemos e que só longinquamente conhecemos a existência dessas regras de hydrodynamica de que s.s. fala, erroneamente taxandoas de formulas precisas (?).
Mas vimos de verificar quão illusorio e vão fora esse receio que alimentávamos. O dr. Alvaro de Menezes, defendendo a Empresa de Saneamento do Paraná, mostrou-se um inhabil advogado, sem a menor noção da logica e deixou a ré em condições peiores ainda do que aquellas em que se encontrava.
Continuamos a contestar, baseados em informações correntes, que tivessem feito os estudos e observações de mananciaes na serra do Mar, mezes antes do ataque dos trabalhos da Empresa. O que houve unicamente, exclusivamente, foram uns estudos feitos pelo dr. Malta Cardoso em alguns cursos das vertentes orientaes da serra e isso mesmo em epocha impropria, de incessantes chuvas torrenciaes.
E tanto isso é certo que, interrogado a respeito por alguém, e já assignado o contracto de 15 de abril, sobre si havia encontrado o volume d’agua necessário, o sr. Alvaro Menezes replicara:
- Ainda não, mas eu hei de cavar agua na serra, custe o que custar.
Por outro lado o sr. dr Alvaro affirma que já estava conhecida a topographia da zona a servir pela rede de esgotos, quando os trabalhos foram atacados. No entanto, não existindo planta topográphica da cidade até então, e não tendo sido visto nenhum empregado do dr. Alvaro fazendo levantamentos regulares pelas ruas, é para se acreditar que o conhecimento da topographia só poderia resultar de algum nivelamento feito a olho, (salvo si o dr. Alvaro mandou proceder os trabalhos de campo nocturnos, para não ser a priori descoberto o seu intuito de fazer o serviço de saneamento da capital do Paraná).
Achamos uma declaração impropria de um lento de uma faculdade polytechnica, essa de que o cadastro nada mais e do que simples archivo de obras feitas, em pleno funccionamento. Não sr, dr, Menezes; nós nada ou pouco entendemos da matéria, mas o bom senso está indicando que o cadastro é um elemento absolutamente necessário para a execução do saneamento de uma cidade.
Falando da fragilidade das manilhas, o sr. dr. Alvaro trata o caso à guisa de pilheria e foge à questão de um modo bem admirável para um espirito superior como é o de s.s. Não ignora s.s. que uma mesma fabrica pode produzir materiaes differentes e que, por conseguinte, a mesma fabrica que abasteceu com êxito as redes sanitárias de dezenas de cidades brazileiras, poderia não mandar para Coritiba tubos de barro vidrado nas mesmas condições de resistência.
Não poderiam também vir manilhas condemnadas, adquiridas pela Empresa devido seu baixo preço? Não vamos, porém, tão longe. O que houve aqui foi pouco escrúpulo na collocação das manilhas, procurando-se empregar a todo o transe mesmo aquellas que em trajecto já haviam soffrido perturbações em sua estrutura.
Infelizmente não conhecemos as formulas a que se refere o dr. Alvaro a respeito da maneira porque foram assentadas as manilhas, sem obedecer às regras technicas.
E teríamos, por consequencia, muito prazer em ver o illlustre professor trazer a publico formulas que ao mesmo tempo que tratam dos diâmetros, secções de razão, cargas por unidade de distancia, perimetro molhado, etc., cogitam da maneira da colocação das manilhas.
O dr. Alvaro termina a sua defesa e nada prova a respeito da crise financeira da Empresa. Nesse particular s.s. nos faz lembrar aquele celebre dito de Platão – “cala-te ou diz alguma coisa melhor que o silencio.”
S.s. baralhou a questão e nada disse que satisfizesse ao publico. Até hontem nós suppunhamos que s.s. tivesse empregado sommas regulares em Poços de Caldas e em S. Carlos do Pinhao. S.s. demonstra que ali só houve simples jogo de acções e não de dinheiro. Mas, então onde se metteu do dinheiro que a Empresa recebeu, isto é, 4.233 contos?
Convirá o sr. dr. Alvaro de Menezes em que nada mais justo que as apprehensões que nós, zelosos que somos pelos interesses do povo, nutrimos por esta famosa questão do saneamento. Assevera o illusttre contactante que o orçamento rigoroso feito por s.s. exige apenas 253 contos para a conclusão das obras:
Poderá s.s. demonstrar isso pela imprensa? Não duvidamos que a agua, si bem que em exígua quantidade, chegue ao reservatório do alto de S. Francisco.
Mas dahia a fazer-se as derivações vae uma distancia enorme. E quem no dirá que ao crystallino liquido não estará reservada a triste sorte de apodrecer naquelle reservatório, a menos que a população procure por si mesma abastecer os seus púcaros e tinas? E para quando o sr. Alvaro de Meneses reserva o funccionamento da rede de esgotos?