Saneamento
São de uma gravidade extraordinária os factos que se tem desenrolado em relação à Empresa de Saneamento de Coritiba. Trata-se de uma questão em que se acham empenhados os melhores créditos financeiros do Estado e para cuja realização o povo paranaense e especialmente o de Coritiba foi constrangido a collaborar na receita com uma parcela que representa para elle, falho como é de recursos monetários, um sacrifício colossal.
Para effectuar o serviço de aguas e esgotos desta capital foi preciso que o Paraná contrahisse na Europa uma divida enorme que nos obriga ao compromisso de mais de mil contos annuaes em uma época em que mais de cem ramos geradores ou fomentadores de riquezas econômicas do Estado reclamam o protector bafejo dos publicos poderes.
Contratando aquelle serviço os srs. Alvaro de Menezes e Octaviano Machado assumiram para com o povo paranaense obrigações cuja seriedade e importância ninguém poderá ser capaz de contestar.
Entidades desconhecidas, conquanto o primeiro tivesse assento numa das cathedras da Academia Polytechnica de S. Paulo elles tinham fatal necessidade de se impor com o favor de suas luzes technicas e o de sua gave compostura commercial.
O publico não vira com bons a confecção de um projeto de delicadeza tão sutil como seja o do saneamento de uma cidade, feito sem a precedência das necessárias indagações technicas em um espaço de tempo relativamente nullo.
Houve um estremecimento de espanto e de horror quando se contemplou aquella miséria da arte de construcção que foi o estabelecimento da rede de manilhas dentro da cidade, tudo numa desordem, tudo numa anarchia absolutamente inadequadas à natureza transcendental do problema de alta hygiene que se procurava resolver.
Por fim, dentro de sua recolhida e silenciosa desaprovação levemente expandida, às vezes, o publico como decidira cerrar os olhos e deixar que fossem os esgotos caminhando em santa paz até o dia em que por si mesmo se evidenciassem o que na realizada deviam ser.
Crises sobrevieram, logo após o precipitado inicio dos trabalhos. As apólices emitidas pelo tesouro não encontravam contação nas praças exteriores. Para remediar a situação fora mister nulificar a parte de uma das clausulas contratuaes em que o Estado não garantia jamais sobre o total das apólices emittidas, quantias que fossem superior a correspondente aos trabalhos realisados pelos contratantes.
Isso, porem, não era ainda sufficiente. Veio em consequencia o empréstimo externo. E os srs. Alvaro de Menezes e Octaviano Machado viram-se de repente, muito longe talvez do que tinham imaginado, dentro do seu espirito conceptivo, nos dias em que se haviam decidido a vir procurar em Coritiba, a fonte preciosa para a opulência das suas algibeiras, na posse de quase toda a importância total do orçamento das obras, antes que estas offerecessem um desenvolvimento bastante apreciável.
Os serviços estão hoje paralysados por falta de pagamento; os empresários não tem dinheiro para satisfazer aos seus compromissos; operários e commercio vêm se succeder os dias sem que lhe perpasse pelos olhos a doce figura de uma esperança completa.
O publico impacienta-se e com muita razão. Onde está o dinheiro que o Estrado com toda a lealdade e boa fé entregou aos contratantes? Onde estão mesmo os contratantes que não apparecem para prestigiar os trabalhos com a sua presença e que agora, neste momento de crise terrível, se deixam quedar, um o sr. Octaviano Machado, constructor, capitalista, a fazer obras no Rio de Janeiro por meio de prestações reduzidas, outro o sr. Alvaro de Menezes a contratar melhoramentos de Poços de Caldas e a fazer empréstimos a municipalidades de S. Paulo?
Tudo isto é, sem duvida, de uma gravidade extrema. O publico não pode ser indiferente aos factos occorrentes e à imprensa não é dado contribuir com o seu silencio para a ignorância dos tristes pormenores com que eles se não revelando.
Urge que os srs. Alvaro de Menezes e Octaviano Machado, contratantes do serviço de aguas e exgotos da capital digam onde puzeram o dinheiro que lhes foi pago pelo governo do Estado.