Chronicando...
“Colhe, hoje, no oloroso jardim da existência a sua risonha terceira primavera, a graciosa menina Empreza de Saneamento.”
Seria esta a noticia, que a imprensa indígena teria a registrar si as Parcas odiosas não roubassem, no vigor e na aurora da vida, tão gentil ornamento da nossa cidade.Tres anos somente! e quanta magoa e desgosto, nós, o zé pagante, não tivemos, neste curto prazo, com tão caprichosa dama?
Apezar das cubiçadas “primas”, ella, a probrezita só teve por mortalha um lençol dado “a perdido”, indo para a vala commum do escândalo, com um cortejo de reclamantes, a exigir o salario e a falar em gordas bonificações.
Teve a má sina a crença: trazia comsigo o pecado original. Os seos paes deram-lhe a luz num dia 13. Treze? †††
E ainda não contente, fizeram-n’a surgir no mez dos capetões. Foi um peixão de Abril, mas um peixão que era quase uma baleia... Apezar disto, apezar de envolta nas commissões e nas bonificações, apezar de ter repreza, ella não passou de uma ré solta, ella nada mais merece que uma recisão.
Pobre pequena! não te balançaram, com carinho, na rede...de exgottos, não te carregarão ao braço do Carvalho, cortarão te a linha adductora da tua vida e te deixaram somente a respirar pelos ventiladores dos enganamentos!,,,
Infeliz crença! Tu eras digna de melhor sorte e de melhores paes. Captaste a estima da floresta serrana, mas não captaste as aguas do Mico e do Tangará, não grimpaste o alto e não inundaste a terra com o teo néctar divino e o teo detricto transformado.
E até hoje o povo chora, com profunda e terrível sêde. Tu que tanta magua lhe causaste, nem ao menos má agua lhe deste.
Foste má, sem duvida! Os teos canos cá nos estão a pezar no bolso, as tuas caixas estão vazias e às moscas, as réprezas não tem revestimentos, os tubos sem ventosas e os registros, os teus colectores nada colectam, o teus filtros nada filtram e nada conjugam e o Belem até hoje aguardo o teo effluente tratados pelo systema Ding-ding-don E a tua fossa, com calhas descobertas jamais terá o gosto de ver os aeróbios fazerem à purificação das tuas coletas! Foi a tua sina.
Um poeta anonymo assim cantou, em versos tão quebrados como os teos tubos, a tua vida:
Era uma vez, uma esperança
Que se tornou um enganamento;
Tu assim foste, pobre crença
Que te chamaste Saneamento.
Naceste a treze, num mez de Abril!
Dia nefasto, mez aziago;
Tu estendeste canos a mil
Da pura lympha não deste um bago!
A voz do povo que sempre rima
Te batizou de enganamento,
Chamou-te alguém, jogo de loto.
Comeste cobre e mais a prima,
Mas não nos deste o encanamento
Nem para, nem para o exgotto.
Os versos não estão certos, mas é a verdade. Gil Hostil.