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Jornal A Noticia

Transcrição da Edição de 04/08/1908 - Pg. 1

                                               AGUA E ESGOTO

       Escreve-nos o ilustre dr. Adriano Goulin, engenheiro chefe dos trabalhos de saneamento desta capital:

      “Prezado sr. redactor d’ A Noticia – Tendo affirmado que ao correr de Julho a população curitybana gozaria finalmente da agua da serra, de há tanta desejada e esperada, sentimo-nos na obrigação de expor aos dignos habitantes desta futurosa capital o motivo pelo qual se não realizou nossa affirmativa.

      Há mezes foram encommendadas, e por telegramma, as peças necessárias para a conclusão da linha aductora e só a 25 de junho, pelo “Santa Catarina”, que os trouxe da Europa, é que chegaram em Paranaguá os indispensáveis registros.

       Foi por isso que a 27 nos julgamos habilitados a affirmar que, no mez seguinte, Curityba poderia conta com a chegada da agua. No entanto, só a 8 de Julho recebemos esses registros, tendo ficado prompto o seu assentamento, bem como o das ventosas, passagens sobre rio, etc., no penúltimo domingo.

       Já a 12 iniciamos, com resultado admirável, as experiencias no primeiro trecho da linha (5km). Em seguida continuamol-as sem interrupção e com resultado mais do que satisfactório. Já conseguimos trazer agua ao Bacachery e estamos actualmente experimentando duas das peores secções – a das Larangeiras e a do banhado do rio Ivahy.

     Até hontem tivemos que substituir 16 tubos. Os 12 que arrebentaram com a passagem da agua eram defeituosos – já estavam rachados 11 e o duodécimo tinha um defeito de fundição. Os outros 4 substituimol-os por termos verificado serem rachados.

      Avaliará a digna população da justa demora quando souber que a substituição de um tubo arrebentado leva um dia inteiro, já devido às dificuldades para o transporte do material necessário à substituição do tubo arrebentado, já, devido ao trabalho penoso dessa substituição, quase sempre a realisar em banhados.

       Aliás, o numero de tubos substituídos é, por enquanto, insignificante em relação ao dos assentados (mais de 8.000) pela antiga empreza. Em toda a linha de adducção forçada é inevitável o arrebentamento de tubos na occasião das experiencias, por maior que tenha sido o cuidado tomado no exame dos tubos antes do seu assentamento.

      Para não sahirmos nem do Brazil, nem da época actual, citamos as rescentissimas experiencias do Xerem, que levaram 2 mezes.

      Nossas experiencias começaram francamente apenas a 19 de Julho. Os tubos de 18 polegadas da nossa linha já supportaram na zona da serra (banhado do rio Cayguava) uma pressão estática de 11¹/² atmospheras, quando a maior pressão dynamica que teremos nos 32 kilometros da nossa adductora não atingirá a 11 atmospheras.

     Quer isso dizer que os tubos soffreram e resistiram naquella zona uma pressão maior do que a que terão nesse ou em qualquer outro ponto da linha quando esta funccionar.

     Não nos é dado ainda prever o tempo que levarão as experiencias por isso depender do numero de tubos defeituosos que ainda existam e que esperamos não ser muito grande.     Já foram tomadas as providencias para serem feitas experiencias durante a noite, afim de acelerar, como desejamos, a conclusão do serviço.

     Restam duas circumstancias para justificar a demora: o grande volume dagua necessário para encher o tubo aductor (cerca de 6 milhões de litros) e preencher os syphões que se esvasiam ao arrebentarem tubos – e os constantes empecilhos que nos oferecem certos indivíduos exploradores da boa fé dos outros e instigadores dos damnos de que, neste momento mesmo, acabamos de ter noticia e cuja repetição não é para desejar.

     Com a publicação destas linhas muito obsequiareis o vosso admirador que desde já vos agradece, etc.”