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Jornal A Republica

Transcrição da Edição de 15 de Outubro 1906 – Pg. 1

                             OBRAS DO SANEAMENTO

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                              AS CAPTAÇÕES D’AGOA

                                       Na serra do Mar

A 12 de Outubro, a data memorável para a historia da civilização americana, lá nos deixamos comboiar para a Serra, em companhia de um selecto grupo de amigos.

            Visavamos visitar as installações ali em construcção pela Empreza de Saneamento do Paraná, para o abastecimento d’agoa à cidade de Curytiba.

            Essa viagem desperta interesse. Da estação de Roça Nova tomamos rumo para a fralda occidental da Serra, onde se acham as construcções, dirigidas pelo sr. dr. Thaty.

Essa travessia se faz a cavallo ou carroça; mas a estrada a percorrer se presta admiravelmente para bicycletas. É estreita, mas sem accidentes.

            Muita cousa prende a attenção do viajante que ascende aquellas cumiadas. A floresta, principalmente, é encantadora.

            De lado a lado se elevam troncos cheios de majestade, dominando tufos de uma vegetação galharda, bordada aqui e acolá pela crespa cabelleira ondeante do tremulo tacoaral (Bambusa minor).

            A herva-matte (Ilex matte) vae até junto às nascentes occidentaes da Serra, naquelle ponto, acompanhada, já se vê, do gran senhor das nossas florestas, o sumptuoso e egrégio pinheiro (Araucaria Paranaensis), na actualidade assumpto obrigado entre os que delle pretendem fazer rival indigno do congênere estrangeiro infelizmente ainda importado da Suecia e de Riga, por um paiz, como o nosso, de infindáveis florestas!...

            Galgados os primeiros contrafortes da Serra do Mar, já se avistam, no extremo horizonte, S. José dos Pihaes, e mais aquém a torre da Agoa Verde, e depois a branca fila de Curytiba, estendida na coxilha verde do planalto.

            Em baixo no valle immenso ao sopé do alentado contraforte que galgamos, fica a colônia de Santa Maria ou Novo Tyrol mettida entre a matta secular...

            Demais o traçado rompeu, aqui e ali, diques de diábase e arestas de granito, de modo que a sua conservação é facílima. O macadam está ao alcance da mao.

            O granito que ali aflora, irrompendo dentre a vegetação ou dos cortes da estrada, varia entre o rosa lindíssimo, ao branco, ao cinzento, e, às vezes, se apresenta constituído da combinação de todos eles, ou parcialmente acrescido de um verde suavissmo. A que preciosas obras de arte reserva o futuro, essa admirável matéria prima mineral?!...

            E vamos galgando os contrafortes da Serra. Lá, a meia altura do dorso da cordilheira marítima, desponta o chalet da Empreza, rodeado de explendorosa vegetação.

            Antes de chegarmos vejamos o que mais notável tem naquelles sítios risonhos, a intensa vida vegetal. O nosso guia, um tyrolez amável e alegre, ia nos apontando, na selva adusta, os seus conhecidos vegetaes:

            O Cedro (Cedrela brasiliensis, de Saint Hilaire), profusamente espalhado na floresta; Pecegueiro bravo (Amygdalus silvestris); Caviuna (Pterocarpus niger, Vell); Peroba (Aspidosperma polyneoron, Mull); Sassafraz (Nectandra cymbarum Ness); Canellas (das variedades: Nectandra rígida, Laurusatra, Mesfilo Dapphne e Basiloxylum rex, de Shum, também conhecida vulgarmente por Farinha Secca); Guaçatunga (Cascaria silvestirs, Sew); Canjarana ( Cabralea canj Lank); Carvalho (Cuercus ilex). Aroeiras (Shinus e Astronus gravealus); a celebre ilex Cauna (Ilex Sp.) com que falsificavam a herva-matte; Louros diversos como os Cordea excelsa (vermelho); C.alliadora (amarelo) e o comumente dito C. hypoleuca; a Coritiça (Bigonia ginosa) florescida, espontando a mancha rubra no verde-escuro longínquo da matta; o Goaraitá (Crisofillum); o Ipê (Tecoma) já sem as suas doiradas flores, etc, etc,.

            Mas deixemos a flores, que, só ella, pode ser assumpto para um vasto trabalho, e vejamos, de preferencia, quaes as obras ali realisadas para o abastecimento de agoa à capital.

            A “Repreza Vicente Machado”, trabalho que hora ao seu constructor, o sub-empreiteiro sr. dr. Carlos Thaty, é uma imensa bacia de cantaria de granito, tendo as paredes internas cimentadas. Ali irão ter sete córregos: - o Carvalho, braço do Carvalho, Tangará, Mico, Urú, Caigoava e Salto, que fornecerão, reunidos, de 70 a 75 litros de agoa por segundo, o que perfaz um total de 8.000.000 de litros em 24 horas.

            Essa represa tem capacidade para reter 5.000.000. O braço do Carvalho, rio de agoas claríssimas, já está captado, atravessando por grande caixa; o Caiguava está também em caminho da repreza, sendo questão de dias a sua completa captação.

            A “Repreza Vicente Machado” está a 1005 metros acima do nível do mar, e a quota da agoa a represar, ficará a 1012 metros. Outras pequenas reprezas e aqueductos parciaes ali vimos em trabalho, todos adiantados.

            A linha adductora tem os canos estendidos a dois kiilometros da repreza geral, e o trabalho segue activamente. Oito carroças fazem a conducção dos canos e o pessoal empregado na ligação é numeroso.

            Tudo faz esperar para muito breve, a continuar o serviço do modo que ali vimos, a conclusão dos trabalhos na Serra, e, por conseguinte, o abastecimento d’agoa a Curytiba.