A Mensagem
Fazendo coro com a Noticia, embora em termos outros, corteses e comedidos, o Diario da Tarde, anlysando a recente Mensagem Presidencial, acha contradictoria n’um ponto e omissa n’outro, a palavra do Governo nesse documento.
Vejamos, por partes, si é razoável o collega nos seus argumentos. A parte financeira da mensagem, relata, com clareza e minuciosidade, o estado do erário publico e as aplicações dadas ao producto do empréstimo externo.
Deduz-se dahi que os dinheiros recebidos do empréstimo de 1905, tiveram a estricta applicação que o Governo tinha em vista ao realisar a operação, que era a unificação da divida publica. Em que consistiam as diversas dividas a unificar pelo empréstimo?
Nas apólices de 1901
” “ 1904
“ “ 1905
Na apólices emitidas por força do contrato para o saneamento.
Na divida para com o Banco União de S. Paulo.
As apólices de todas as emissões, foram resgatadas n’uma somma total de R$- 6.491:000$000.
Resta o pagamento da divida para com o Banco Unido, no valor de R$-630.000$000, divida que o Governo ainda não resgatou por não convir aos interesses do Estado o seu resgate neste momento, quando é sabido que temos em dia o pagamento de juros e amortisação, nos termos estrictos de um contracto que nos oferece vantagens que não seria licito dispensar.
Nota o contemporâneo que a Mensagem é omissa sobre o quantum do debito par o Banco Unido; que o documento em questão entende nada significar o facto do não pagamento dessa divida, porquanto o Governo se diz apparelhado para solver esse compromisso com reservas existentes no Thesouro.
Não crê, entretanto, o Diario que assim seja, pois que “nos haveres do Thesouro encontra apenas 970:338$299 em moeda corrente, sendo que o restante o saldo 3.056:430$002, com que se encerrou o exercício financeiro de 1906 segundo a mensagem, é constituído por valores inábeis para pagamento, como sejam importâncias garantidoras de contractos, conta corrente da estrada de ferro e a elevada soma de....
1.204:121$200 em estampilhas emitidas pelo Estado”.
Mas em seguida à sua descrença, diz o Diario que “convem notar que a Mensagem é omissa sobre o quantum do debito que temos para com o Banco.”
Ora, sendo esse quantum inferior a quantia dada acima pelo próprio Diario como existente nas arcas do Thesouro, não sabemos porque o collega não há de crêr que tenha o Governo numerário hábil para solver a quando entender conveniente.
Mas sigamos mais de perto as observações do contemporâneo, restabelecendo a verdade algarismal que a exposição do confreiro achou confusa. Boa duvida...Pois é isso mesmo o que diz a mensagem. Afirma ainda o Diario que o restante do saldo do exercício é constituído por valores “inhabil para pagamento”...
Perguntamos: será inhabil para pagamento o salto de 226727$100 que o Estado tem no Banco Paraná? Serão inhabil para pagamento 1900 acções do Banco Commercial do Paraná na importância de 380.000$? Pois tudo isso, sem entrar nas estampilhas e valores em deposito, monta em R$. 1.874:929$399.
Ora a divida do Banco União é apenas de 630.000$. Parece-nos portanto que aquella somma, ou mesmo somente os 970:000$ em moeda corrente, é mais que suficiente para pagar essa divida, si o Diario não entender o contrario.
Agora um conselho: o Diario, para tratar destas coisas, deve enfronhar-se mais nos documentos officiaes, para não fazer como mestre Polycarpo da Noticia, com quem, aliás, nem por sombra o comparamos....