BARRAGEM DE PIRAQUARA
Governo garante: é uma obra necessária
Ao mesmo tempo que a Sanepar, executora da obra, afirma que ela é necessária e garantirá o abastecimento de água para a Região Metropolitana de Curitiba até 1985, quando seremos 1,5 milhão de pessoas, técnicos climatologistas, geólogos e ecologistas dizem que a construção da Barragem de Piraquara, situada há 20 quilômetros do centro de Curitiba, poderá alterar o nosso clima, a ponto de provocar a maior precipitação de chuvas, principalmente num raio de 10 a 15 quilômetros do local da obra. Também em Piraquara, embora a população desconheça qualquer fato relativo a alteração climática, o Prefeito local, Luiz Cassiano Fernandes não vê vantagem alguma para o município na exploração, por parte do Governo, dos mananciais de águas existentes na região.
A Barragem de Piraquara, considerada pelo Governo do Estado como “a maior obra no setor de abastecimento dos últimos quatro anos”, será inaugurada na próxima quinta-feira, dia oito, durante solenidade que terá a presença do Ministro Rangel dos Reis, do Interior, além do governador Canet. Neste dia serão fechadas as comportas, ficando obras de acabamento para serem concluídas.
Climatologistas, entre eles o professor Osvaldo Iwamoto da Universidade Federal do Paraná, disse que a formação de lago, em locais onde houve desmatamento, provoca a formação de nuvens e, em consequência, a maior precipitação pluviométrica. No local onde está construída a Barragem de Piraquara, grande área foi desmatada para (ilegível) ao lago que representa uma área inundada em torno de (ilegível) metros quadrados “e dificilmente será recuperado o equilíbrio ecológico”.
“Qualquer fato a desmatamentos, criação de lagos artificiais de represas ou mesmo a poluição, mudarão o clima de uma região, provocando com maior frequência a ocorrência de chuvas”.
Explica, ainda, Iwamoto que o clima nestes casos, poderá ser alterado em pequena ou grande escala e que o tempo permitirá o um (ilegível) da situação.
“O certo é que o micro-clima será modificado, pois nas grandes cidades existe o efeito do aquecimento do ar e com o aumento dos gases atmosféricos, gerados pela formação dos lagos com desmatamento, o ar facilmente se aquece, provocando a formação de nuvens densas e em consequência a ocorrência de chuvas.
A maior frequência no caso, principalmente na região da Barragem de Piraquara, que por situar-se no pé da Serra do Mar, já tem um maior índice pluviométrico que as demais regiões essa precipitação de chuvas será maior”.
A explicação técnica sobre a modificação climática dada por geólogos e ecologistas: conforme a direção do vento, o clima pode ser mudado em diversas áreas ou regiões, mas isso de acordo com as estiagens do ano. Eles afirmam, ainda, que os lagos funcionam como uma (ilegível) de sucção atraindo a chuva através da formação de nuvens. “Normalmente, a construção de uma barragem evapora mais água do que o solo seco, o capim e (ilegível) através de florestas na região que sofreu o desmatamento é (ilegível) evitada uma maior alteração climática”
Técnicos da Sanepar, por outro lado, asseguram que as áreas devastadas serão totalmente reflorestadas e então teremos, novamente o necessário equilíbrio ecológico. Também admitem os geólogos que qualquer obra deste porte, provoca um impacto na área e seu ajustamento só virá com o decorrer dos anos.
“É evidente que Piraquara, um dos municípios da Região Metropolitana de Curitiba, é o que mais sofrerá com a alteração climática e seus moradores terão que se acostumar com a maior ocorrência das chuvas”, é o que afirmam os geólogos paranaenses. Ao mesmo tempo, a Sanepar diz que o chamado “desastre climatológico” que pode ocorrer em função da formação do lago da Barragem, não se verifica por causa do desmatamento planejado e a reposição da vegetação, que, assim evitará a erosão”. Embora façam essa afirmação, estes mesmos técnicos da Sanepar, admitem que “o que poderá ocorrer é uma pequena alteração climática, mas nunca num perímetro além de 5 km do local da Barragem”.
A verdade é que as autoridades não estão nada preocupadas com a possibilidade do provável “desastre ecológico” e tanto é que (ilegível) já anuncia a construção de mais duas barragens “sempre com toda segurança técnica” na Região Metropolitana de Curitiba e com capacidade superior a de Piraquara. São as do Rio Miringuava, no Município de São José dos Pinhais e do Rio Passaúna, próximo a Campo Largo, com volumes de água represada superior a 64 e 59 bilhões de litros respectivamente, contra 22 bilhões de litros da Barragem de Piraquara.
Piraquara: o prefeito protesta
No município de Piraquara, que segundo climatologistas, poderá ser atingido com maior intensidade pelo chamado “desastre climatológico” em função da construção da Barragem, sua população não se mostra apreensiva. O prefeito Luiz Cassiano Fernandes, da Arena, desconhece tal fato e prefere falar sobre a construção da Barragem, mas sob outro ângulo.
- “Essa obra significa mais um sacrifício econômico de Piraquara para a Região Metropolitana, principalmente para Curitiba, sem o devido retorno financeiro”, afirma. Por isso, segundo Fernandes, “para nós de Piraquara, o principal desta obra é que teremos a presença do governador do Estado e autoridades no município, nada mais que isto”.
- “Além do mais – diz o prefeito – com a utilização dos mananciais de água aqui existentes, ficamos prejudicado no setor industrial pois há serias restrições por instalação de industrias no município, além de não podermos executar loteamentos com facilidade, pois não se sabe onde e quando o governo pode utilizar nossa terra para construção de obras”.
Ainda segundo o prefeito de Piraquara, ¼ do seu município “é propriedade do Estado”, pois ali estão construídas, além dos serviços de abastecimento de água do Iraí e do Piraquara, a Penitenciaria Central do Estado; Manicômio Judiciário, Colônia São Roque, Estações de Tratamento de Água, entre outras.
- “Também – afirma Fernandes, - temos a Surehma em nosso pé. Esse órgão do governo age como fiscalizador e impõe uma série de restrições a instalar uma indústria no município. Por isso – continua o prefeito – hoje não temos de onde tirar o dinheiro, pois dessas obras todas do Estado, não temos qualquer suporte financeiro”. Piraquara tem, segundo seu prefeito, cerca de 70 mil habitantes, “dos quais a maioria só dorme no município”.
- “Essa maioria trabalha, recebe e o que é principal e ruim para nós, gasta o dinheiro todos em Curitiba, só trazendo o problema social para nós resolvermos. Somo a exemplo de outros municípios da Região Metropolitana, uma cidade dormitório da Capital”.
“Infelizmente, continua Luiz Cassiano Fernandes, é a chamada Lei da Oferta e da Procura e quando alguém quer instalar uma fábrica ou mesmo uma indústria, seja de pequeno, médio ou grande porte, nos consulta, mas quando o projeto é apresentado a alguns órgãos do governo, há restrições e em consequência o empresário vai para outro município que lhe oferece garantias”.
Irritado com “essas restrições”, o prefeito de Piraquara disse que está ciente da importância do município para a Região Metropolitana “e se botarmos para quebrar nós acabamos com os mananciais de água de Curitiba e aí quero ver como resolverão o problema do abastecimento”.
Saiba o que é a Barragem de Piraquara
Em construção desde janeiro de 1978, a Barragem de Piraquara, localizada há 25 quilômetros de Curitiba, é considerada, pelo governo estadual como “a grande obra no setor de abastecimento de água nos últimos quatro anos”.
Para que fosse possível esse empreendimento, foram necessárias desapropriações de 500 hectares, no vizinho município para erguimento da barragem de 520 mil metros quadrados. Também não houve preocupação quanto ao elevado investimento da 0bra – 232 milhões de cruzeiros – já que os recursos foram oriundos não só do governo Estadual, mas, e, principalmente do Banco Nacional de Habitação. Prevista sua inauguração para o dia oito, com o fechamento das comportas, a Barragem de Piraquara, no entanto, só entrará em funcionamento definitivo no mês de junho. O fato de alteração no clima da Região Metropolitana não deixou, igualmente, o governo Estadual preocupado. Tanto é que no dia oito, o governador Jayme Canet Junior e o ministro Rangel Reis, do Interior, que representará na solenidade o Presidente Geisel, devem assinar contrato para a construção de mais duas barragens: uma junto ao Rio Miringuava, em São José dos Pinhais e outra no Rio Passaúna, próximo a Campo Largo, com volumes de água represados superiores a de Piraquara.
Com capacidade para abastecer uma população de 1,5 milhão de habitantes que, segundo previsões, será alcançado pela Região Metropolitana em 1985, a obra de Piraquara necessitou o trabalho de 500 homens e os estudos efetuados pela Sanepar para sua localização, decorreram do fato de que a cidade de Curitiba e grande parte de sua área Metropolitana “situa-se na bacia hidrográfica do trecho superior do Rio Iguaçu”; Assim, concluiu-se que a nascente do Iguaçu, na Serra do Mar é o único manancial responsável pelo abastecimento de água de Curitiba “devendo – segundo técnicos da Sanepar – ser aproveitado de maneira racional, a fim de fazer frente a eventuais estiagens prolongadas”.
- Por isso – explicam os técnicos da Sanepar – é que a Barragem de Piraquara é considerada como uma barragem reguladora.
A área total inundada é de 3.600.000 metros quadrados e o volume de água represado é de 23 milhões de litros (23.000.000 m³), sendo seu lago – que será o grande responsável pela alteração climática na região – de profundidade média de 7 metros e máxima de 28 metros, com comprimento em torno de 6.000 metros e largura média de 400 metros, garantindo uma vasão mínima regularizada de 3.000 m³/s no local de captação de águas do Rio Iguaçu, sem qualquer prejuízo de captação das águas do Rio Iraí, que é da ordem de 0,750,³/s. Já as futuras barragens de Miringuava e Passaúna terão volumes de águas represados de 64 bilhões de litros com área de drenagem de 143 km³ e 59 bilhões de litros e área de drenagem de 103 km³, respectivamente.
DADOS TÉCNICOS DA OBRA
Comprimento da crista – 283 m
Largura da Crista – 7 m
Escavação do solo – 250.000 m²
Escavação em aluvião – 150.000 m²
Escavação em rocha – 20.000 m²
Aterro compacto (maciço) – 550.000 m²
Filtros – 35.000 m²
Enrocamento em rocha – 25.000 m²
Concreto armado – 5.000 m²
Área da Bacia Hidrográfica – 27 km
Área inundada – 3.600.000 m²
Volume de água represado – 23.000.000 m³ (23 bilhões de litros)
Profundidade média do lago formado – 7 m
Profundidade máxima – 28 m
Comprimento – 6.000 m
Largura média – 400 m
Investimentos – Cr$ 232.000.000,00