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Jornal Correio de Noticias

Transcrição da Edição de 31/12/1978 Pg. 2

 

                       Chegou a vez do saneamento básico

             O Governador do Estado fez duas visitas importantes na

        Manhã de ontem: a primeira na construção da represa de água de

                  Piraquara; a outra na obra da estação de esgotos.

    Está tudo normal na Sanepar e as informações dadas sobre as consequências do dissídio foram fornecidas por alguém que demonstrou total ignorância sobre o assunto”, declarou ontem o Secretário do Interior Noel Lobo Guimarães sobre o dissídio coletivo impetrado por empregados da Sanepar que acusam o órgão de manter seus salários inalterados há três anos. “As reivindicações são injustas, mas nós não vamos ficar discutindo isso. Deixamos esta decisão a cargo da Justiça do Trabalho”, concluiu. Ontem, junto com o Governador Jayme Canet Junior, o Chefe da Casa Militar Ralph Sabino, e o diretor da Sanepar, Claudio Araujo Noel esteve visitando as obras da barragem de Piraquara e da Estação de Tratamento de Esgotos, acompanhados pelos engenheiros responsáveis.

    Segundo o supervisor dos trabalhos da barragem pela Sanepar, engenheiro Eduardo José Piechnik o único problema que está havendo quanto à desapropriação das terras que serão alagadas (4 quilômetros quadrados) é a falta de documentação dos proprietários, já que muitos simplesmente tomaram conta da área e ali permaneceram através dos anos. No mais, somente a chuva faz parar os trabalhos da empreiteira C. R. Almeira, cujo prazo contratual para término das obras tem final previsto para o dia 10 de maio. O fechamento das comportas deverá ocorrer em final de janeiro, mas o lago só estará totalmente formado ao final de um ano.

    Entre ficais e operários, trabalham na barragem 500 homens em turnos que vão das 6 às 21 horas, diariamente. “Quando há serviços de concretagem o trabalho vira 24 horas”, frisou Piechnik. Continuando, ele disse que os trabalhos em Piraquara são mais difíceis pela alta umidade da terra que exigiu, inclusive, metodologia construtiva diferente das utilizadas nas demais barragens. “Esta é uma região de alta pluviosidade”, ressaltou, “e temos que fazer o aterro com desvio de unidade de até 6% acima da umidade ótima de compactação, como acontece nas regiões secas”.

    Conforme foi explicado ao Governador Jayme Canet Junior, as obras encontram-se em etapa final de construção do maciço de terra compactada para termina-lo. “Os operários estão agora fazendo a concretagem do vertedouro de superfície e a proteção do talude do montante com enrocamento de pedras”, mostrou o engenheiro responsável baseando-se nos projetos da obra. Uma das próximas etapas será a de iniciar a instalação da comporta vagão, onde ficarão instalados os instrumentos que indicarão todo o comportamento da barragem durante a construção e sua vida útil.

     Apesar de ser uma visita costumeira (os engenheiros afirmaram que por várias vezes o Governador lá esteve), Jayme Canet ouviu todas as explicações e descrições necessárias para compreensão do estágio atual das obras da barragem que, quando pronta, terá por objetivo eliminar a Região Metropolitana de Curitiba os problemas de uma estiagem “de até 120 dias”, conforme definiu o engenheiro Eduardo. Ao redor do canteiro de obras já foram iniciados os trabalhos de paisagismo, com plantio de grama e aterragem necessária. Além disso está sendo feito o sistema de drenagem interna da barragem, com filtro vertical e filtros inclinados, que evitarão a erosão do interior do maciço pelas águas, já que é impossível a construção de uma barragem totalmente estanque.

    Ainda sobre o que falta para o término dos serviços, o engenheiro responsável declarou estarem sendo feitos os “bota-fora” de jusante e montante. Toda a instrumentação que será instalada na comporta vagão é nacional, mas baseada em “know-how” estrangeiro. Nesta aparelhagem estará o controle da represa e por ela os engenheiros terão noção do que está nela ocorrendo. “Seu objetivo é aumentar a segurança da barragem, pois sob qualquer anormalidade os instrumentos fazem a indicação”, afirmou o técnico.

   Claudio Araujo, poco antes da chegada do Governador, fez questão de mostrar aos repórteres o laboratório instalado no acampamento onde a cada 45 minutos são feitos exames de compactação, limites, sedimentação, compassividade e granometria pelos próprios empregados da Sanepar que receberam, para isso, ensinamentos dos técnicos do Instituto de Pesquisa e Tecnologia de São Paulo. De acordo com os resultados destes exames os trabalhos podem até ser desfeitos e refeitos, até que atinjam nível ideal dentro das escalas.

    A visita do Governador e do Secretário do Interior foi feita de surpresa e teve caráter informal. Eles estiveram em vários setores das obras, desde o lago, que já está se formando, até o vertedouro ainda em construção. Por enquanto o rio Caiguava, que formará a barragem, permanece correndo livremente, continuando assim até o final de janeiro quando finalmente será dado início ao alagamento. Para janeiro estão sendo esperados mais dezesseis dias de trabalhos, prevendo-se o restante de chuvas, que atingem, naquele local a média de 2.300 milímetros. Neste período, para que sejam compactados os 100 mil metros cúbicos de terra, os operários deverão perfazer uma média de 5.500 metros por dia, o que tem sido alcançado com facilidade nos dias secos.

    Depois da barragem o Governador e seus acompanhantes seguiram à Estação de Tratamento de Esgotos do Boqueirão, que deverá ser inaugurada em fevereiro próximo com a presença do Presidente da República Ernesto Geisel. De acordo com a explanação feita pelo gerente de obras de esgoto da Sanepar, Pedro Nelson Franco, a ETE está com sua infra-estrutura concluída e mais de 90% da infra-estrutura construída. O mesmo acontece com 70% de sua superestrutura e isto significa que a parte mais pesada dos trabalhos já está feita. Até mesmo os equipamentos elétricos e mecânicos já estão sendo montados e instalados e atualmente os operários se ocupam com as tarefas finais da Estação.

    No entanto, conforme explicou o engenheiro responsável, o início das funções da estação não será logo após sua inauguração, mas seis meses depois, já que antes deverão ser feitos os testes de calibragem pre-operacional, quando são postas em experiencia todas as etapas pelos quais passarão os esgotos vindos de Curitiba por meio de uma linha de interceptadores com 7 quilômetros de extensão. A ETE, em suas funções, utilizará o processo de aeração prolongada, com sistemas de valas de oxigenação que tornam as operações mais simples e a baixos custos de investimentos.

    Além disso, ela removerá em 95% a demanda bioquímica de oxigênio e em 80% o nitrogênio, com o fosforo sendo retirado na proporção de 90% com adição de sais. Através dos interceptadores, o esgoto chegará à ETE e irá diretamente à estação elevatória do esgoto bruto que elevará o liquido ao nível adequado para que se estabeleça seu perfil hidráulico operacional. Esta estação elevatória é composta por cinco câmara com cinco conjuntos de moto bombas helicoidais, sendo que três delas já estão instaladas.

    Após esta passagem, o esgoto segue por duas unidades de gradeamento mecanizado que reterão material de diâmetro maior que 2 centímetros que depois será retirado por correia transportadora. Feito isso o fluxo segue à unidade de desarenação onde a velocidade é baixada a um nível que possa permitir a sedimentação das partículas em suspensão. Depois disso o liquido é levado aos tanques de aeração em quatro partes separadas, percorrendo 1.700 metros por dezoito vezes contínuas. Após as etapas é introduzido o oxigênio necessário para a manutenção dos níveis para a estabilização da matéria orgânica através de microrganismos aeróbicos que metabolizarão bioquimicamente suas estruturas complexas, transformando-as estáveis.

    O efluente é então levado ao canal de descarga por onde, claro e 95% despoluído, é jogado no sistema ao rio Iguaçu. O lodo restante de toda esta manobra ainda não tem objetivo certo, mas estuda-se a possibilidade de vir a ser utilizado na agricultura, como corretivo do solo.

     A visita do Governador Jayme Canet Junior, junto ao Secretário do Interior Noel Lobo Guimarães, Chefe da Casa Militar Ralph Sabino e diretor da Sanepar Claudio Araujo começou próximo às 9h30min da manhã em Piraquara e terminou no início da tarde no Boqueirão onde, após a visita às obras, os visitantes tinha à sua espera um audiovisual preparado com as diversas etapas das obras supervisionadas. Durante todo o percurso coube ao Governador ouvir as explicações do dirigente da Sanepar e do responsável pela Pasta do Interior, já que ele muito pouco perguntou ou comentou sobre as explanações, demonstrando certo cansaço físico.