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Jornal Correio de Noticias

Transcrição da Edição de 11/10/1977 Pg. 3

                              Falta dinheiro para a estação

                 Ainda não há verbas para executar o projeto de uma

            Estação Ecológica Estadual, que preservará os mananciais da

                  serra, junto à barragem do Rio Caiguava, em Piraquara

  “Como o governo federal está com dificuldades de verba, ainda não há um prazo definido para o inicio das obras da Estação Ecológica Estadual, que preservará os Mananciais da Serra”. A afirmação é do presidente da Administração dos Recursos Hídricos engenheiro Jurimar Cavichiolo, que recentemente esteve em Brasília para tratar do assunto.

    Como a Secretaria Especial do Meio Ambiente, Sema (que está implantando Estações similares em todos os Estados), no momento não dispõe de excedentes financeiros para este fim, está se tentando obter estes recursos junto à Comissão Nacional de Pesquisa, CNPQ, já que a Estação terá também finalidades educativas. A Estação custará 25 milhões de cruzeiros, parte dos quais provenientes do Governo do Estado.

   A Estação se situará junto à futura represa do Rio Caiguava em Piraquara. Já há verba para desapropriação da obra da barragem. Nos custos finais também está sendo computado o dinheiro necessário para a criação de um parque, que será uma espécie e ante-sala da Estação, além de servir de local para lazer para o curitibano. Ela terá uma área (ilegível) 507 hectares, dos quais 2.200ha pertencem ao patrimônio geral do Estado e (ilegível) já estão declarados de utilidade publica e em fase de aquisição. Além dessas, também farão parte da Estação Ecológica a área de 965ha pertencente à bacia do Caiguava que será objeto de legislação especial quanto ao uso do solo.

  A estação contará com laboratórios de biologia, entomologia (incluindo câmaras climatizadas), botânica (incluindo estufas), psicultura, perfazendo uma área construída de 800 metros quadrados. Inicialmente serão executadas as obras de infra-estrutura, necessárias aos projetos de pesquisa e à administração da estação. Haverá salas de aula (teóricas e práticas), numa área de 150m²; enquanto que em 1.052m serão instalados os Serviços Administrativos, Biblioteca, Meteorologia, Almoxarifado e Casa do Administrador.

  Também serão executadas construções especiais: tanques de piscicultura, torres de fiscalização, estações meteorológicas, estações de amostragem do ar e vias de acesso.  Vinculada administrativa, financeira e tecnicamente à ARH, a Estação contará também com uma equipe própria de cientistas que coordenarão as diversas pesquisas a serem desenvolvidas.

   “A Estação será uma reserva natural em que o homem não tem ingerência, e deixa que a natureza – fauna e flora, se refaçam”, explicou Cavichiolo. “A partir deste equilíbrio, poderão ser analisadas as várias interações do reino vegetal e animal. Como e um campo possível de pesquisa para os alunos de pós-graduação, a Universidade Federal do Paraná está interessada nesta Estação”. A Estação protegerá ainda os mananciais que abastecem de água Curitiba. Após sua implantação, pretende-se desenvolver ali diversos tipos de estudo: caracterização do meio através de elaboração de cartas de vegetação e de solos, estudo da qualidade da água e do ar; estudos de autoecologia e sinecologia; levantamento e estudo de dinâmica das populações das principais espécies animais, estudos sobre a ictiofauna; organização de um museu zoológico; estudos da ecologia vegetal – biologia das plantas, estudos fitossociológicos e organização de um herbário; estudos de poluição  - contaminação da água por pesticidas, poluição do solo e do ar, efeito dos inseticidas sobre a fauna.

   A determinação de criar a estação ecológica partiu do secretário do interior, Noel Lobo. Um grupo de trabalho composto de 14 membros de diversas secretarias elaborou um estudo, já concluído. A urgência de sua criação foi justificada da seguinte forma, neste estudo:

   A ação do homem sobre a biosfera levou à rarefação ou à destruição de muitas espécies animais e vegetais. A partir do século XVII, e até ao momento presente, foram exterminadas 162 espécies e sub-espécies de aves, tendo desaparecido, pelo menos, uma centena de espécies de mamíferos, e estão em vias de extinção mais de 255 espécies, não devendo ser esquecidos os invertebrados, principalmente os insetos, que estão sob a ameaça dos inseticidas.

  -Também certos ecossistemas acham-se tão ameaçados quanto as espécies que o constituem. Assim, as dunas e as praias arenosas do litoral, com sua flora tão altamente especializada, cedem aos poucos diante das construções; os bosques seculares, com sua fauna característica estão sendo substituídos por plantações de arvores resinosas das quais parece ter desaparecido qualquer forma de vida. A destruição da floresta pelo machado ou pelo fogo é um fato real que tem de ser encarado de frente, pois esta destruição vai acelerar o problema da erosão, provocando o arrastamento das partículas do solo que se vão depositar nas represas, diminuindo a capacidade do reservatório e provocando inundações, por vezes catastróficas, pela falta de cobertura geral para impedir que o solo retenha a água da chuva.

   -Atendendo a toda esta problemática é necessário que se faça algo para conservar a natureza, desde a conservação dos solos até a conservação das espécies e, principalmente dos ecossistemas, pois a conservação de espécies isoladas é bastante difícil; há que se preservar o conjunto no seu todo, a fim de não perturbar o funcionamento e a dinâmica do ecossistema, isto é, não provocar o seu empobrecimento, pela diminuição do número de indivíduos ou das espécies componentes, provocando o afrouxamento de suas atividades biogeoquímicas. Portanto, torna-se necessário que os ecossistemas mais representativos sejam preservados, o que permitirá pôr termo à sua degradação.

  O estudo conclui ainda que a Estação Ecológica do Manancial da Serra., que pode ser considerada como Reserva Natural Integral, deve ocupar área relativamente grande, rodeado de zonas protetoras (parque ou reserva de caça) que funcionariam como tampão entre a Estação e o meio ambi9ente mais ou menos alterado. Caso isto não se dê, não existe viabilidade para que a natureza e as suas leis possam atual livremente, devido às influências que sobre ela se fazem sentir, oriundas do mundo exterior.