Os problemas da represa
A Sanepar vai construir uma nova estação
de captação de água no município de Piraquara e já surgem problemas ligados a desapropriações.
Fontes da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) informaram que na próxima semana o presidente da empresa, Engº Claudio Araujo, se pronunciará oficialmente sobre a área a ser inundada em Piraquara para a construção de uma nova fonte de captação de água para Curitiba e sobre a desapropriação de cerca de 30 propriedades rurais situadas dentro da faixa de aproximadamente cinco quilômetros quadrados a ser atingida.
Atualmente a Sanepar realiza o levantamento topográfico do local e providencia a instalação de um canteiro de obras. A área a ser inundada resultará do represamento do Rio Caiguava (afluente do Rio Piraquara que, com o Iraí, forma o Iguaçu). E uma comissão especial da empresa estuda a desapropriação e a situação legal de cada propriedade, “pois a Sanepar não pretende prejudicar ninguém com as desapropriações”.
Fontes da Sanepar garantem que, em princípio, como envolve interesse do Estado, a empresa vai se ater ao rigor da lei. Os recursos para as desapropriações serão provenientes da Administração de Recursos Hídricos.
Atualmente está se fazendo levantamento topográfico no local da barragem e implantação do canteiro de obras; prevendo-se para outubro o início das obras de engenharia, e a sua conclusão para dezembro de 1978. A barragem Piraquara integra o programa de ampliação do sistema de abastecimento de água em Curitiba e da Região Metropolitana. Ela servirá para o reforço e melhoramento no sistema de produção e distribuição de água, ampliando o sistema de adução e dos reservatórios.
O volume de água contido na barragem será de 20 milhões de litros, devendo para isto inundar uma área de aproximadamente cinco quilômetros quadrados. O rio represado será o Caiguava, afluente, do Rio Piraquara, que se unindo com o Rio Iraí, formam o Rio Iguaçu. Esta barragem será constituída por maciço de terra homogênea com filtros verticais e horizontais, Além de um vertedor haverá ainda, um descarregador de fundo, constituído de torre de tomada de água, galeria de descarga em concreto e torre de manutenção à jusante. O projeto é da Proben – Projeto e Engenharia de Sistemas Ltda., com base em estudos de regularização do Rio Iguaçu feitos em 1969 pelo Centro de Estudos e Pesquisas de Hidráulica e Hidrologia da Universidade Federal do Paraná, e com base no Projeto Básico da Barragem Piraquara, elaborado em 1973 pela Promon – Engenharia S/A. Para a construção da barragem serão investidos recursos do valor de 115.648.812,60, através do Banco Nacional da Habitação e Governo do Estado do Paraná.
O que poderá complicar nas desapropriações da área é que (ilegível) proprietários – Clara Doernet e (ilegível) Werner Doernet, possuem título de propriedade da terra. Os demais são posseiros que se estabeleceram há muitos anos. O local da represa é montanhoso, e o lado que será ali construído será extenso, mas relativamente pouco largo, formando muitos braços na acidentada topografia do local (ilegível) para a agricultura, segundo os donos, embora relativamente (ilegível) chega a ser de melhor qualidade. É (ilegível) ali principalmente o milho, feijão, arros e batata doce.
Osvaldo Stocco, um dos que serão desapropriados, conta que reside no local há 20anos, trabalhando na lavoura para viver. Comprou sua terra de outro posseiro, e requereu o título de propriedade ao Estado há dez anos sem ter conseguido. Para ele a desapropriação não foi surpresa, pois estava sabendo dos estudos feitos na área há muitos anos. Há poucos dias recebeu visita dos técnicos da Sanepar para acertar a desapropriação, mas ainda não sabe nada de concreto, nem quando ela se data. “Não sei quanto minhas terras vale”, disse. Só quero que me paguem seu valor justo”. Ele possui 52 hectares e perderá 32 com o alagamento. Seus dois alqueires de terra cultivada, no entanto, não se situam na área que será alagada.
Menos sorte ainda terá Werner Doernet. De seus 17 alqueires restarão menos de quatro. Seus parentes (ilegível) igualmente a propriedade inundada pelas águas: 1 mãe possui 22 alqueires; o cunhado com 15 alqueires e seus irmãos Luis, Domingos. Também a cunhada Nair, com áreas de cinco alqueires. De todos eles, Werner é o único que ainda reside na propriedade. Prevendo a desapropriação muitos proprietários já haviam vendido suas terras, tendo já se mudado dali, ao menos seis famílias.