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Jornal Correio de Noticias

Transcrição da Edição de 15/07/1977 Pg. 6

 

                                          ABASTECIMENTO

                                         Não vai faltar água

      É o que a Sanepar garante, além de anunciar o fim da primeira etapa de trabalho para construção da estação de tratamento de  Esgoto. Quem mora na região, tem três dias para sair

    A Sanepar afirma que Curitiba não enfrenta problemas de abastecimento de água devido à seca prolongada que diminuiu o nível dos rios abastecedores. O volume captado pela bacia é na proporção de 200 milhões de litros de água que são produzidos nas estações do Iguaçu e Tarumã. Enquanto houver água nos rios há condições de captação. Além disso, há duas represas auxiliares do Rio Iguaçu que reservam água com capacidade para abastecer a cidade por uma semana, no caso de falha das duas estações principais. Esse volume de água nunca precisou ser utilizado pois dos 200 milhões de litros habituais, bastam 173 milhões para abastecer Curitiba.

    A água que abastece Curitiba vem do manancial da serra. A captação da água é feita em alguns rios que compõe a bacia do Iguaçu, como o Pequeno, Itaqui, Iraí e Piraquara. Todo o processo de captação localiza-se em Piraquara. Os técnicos da Sanepar concordam que, com a expansão da cidade, se não houver controle da poluição, esses rios futuramente serão inadequados para captação de água.

    Será construída uma barragem na nascente do Rio Piraquara que, além de ampliar o armazenamento de água diminuindo as possibilidades de falta, evitará as enchentes que ocorrem em determinadas áreas.

     Atualmente os rios que fornecem água para a estação de tratamento não necessitam de cuidados além do convencional, pois possibilitam a obtenção do índice de potalidade dentro de padrões rigorosos. As condições básicas para um rio abastecer uma cidade são: não possuir vazão mínima, baixo grau de poluição, boa localização em relação à cidade; viabilidade técnica de adaptação de uma rede de captação, e viabilidade economia.

      Apesar do nível desses rios estarem baixos devido à seca acentuada desde março, os técnicos acreditam que uma boa chuva durante um dia aumentará o nível atual, retornando à bacia abastecedora à normalidade.

        Início das obras da estação

        A área já foi desmatada e agora começa a construção

    A fase de desmatamento da área de 540 mil metros quadrados onde será construída a primeira estação de tratamento de esgoto de Curitiba, foi encerrada ontem. Os trabalhos são realizados pela Cesbe. Seu início se deu a 1° de julho, com encerramento previsto para o final de dezembro de 1978.

    Além do desmatamento, já estão sendo procedida a organização do canteiro, a drenagem das lagoas, a medição dos focais da obra e a construção de vias de acesso e de movimentação. Por parte da Sanepar, já está em fase de licitação a aquisição de equipamentos mecânicos, elétricos e hidráulicos, no valor de aproximadamente 100 milhões de cruzeiros, que também serão utilizados para a construção da rede coletora de esgotos da cidade. Estes últimos trabalhos também foram iniciados no bairro do Juvevê.

   Já existem 40 empregados da Cesbe trabalhando na futura Estação de Tratamento de Esgotos. As obras estão localizadas em dois pontos: no rio Iguaçu, onde será aberto um canal para escoamento das lagoas ali existentes; e no local onde será o tanque de aeração, atualmente em obras de escavação e terraplanagem.

  Explicou o engenheiro Pedro Nelson da Costa Franco, da Sanepar, que “a Estação de Tratamento de Esgotos utilizara um tipo de processo – aeração prolongada tipo Carroussel, que é inédita na América”.

   A estação de tratamento irá tratar os despejos da população da bacia do Belém. Essa estação faz parte de um investimento sanitário global de 600 milhões de cruzeiros, dos quais só a estação consumirá duzentos milhões. Concluída a primeira etapa, deverá dar vazão de dois metros cúbicos por segundo, atendendo cerca de 68 por cento da população urbana da bacia (esta bacia abrange 75 por cento da população, compreendendo o centro de Curitiba e vários bairros. Essa primeira etapa estará concluída no final de 1978.

   A segunda etapa, de ampliação da rede de coleta e emissão será construída dentro de sete anos, aproximadamente, dependendo da demanda, enquanto que a terceira etapa terá início sete anos após a segunda. No programa total, a Estação deverá atender a uma população de 1,4 milhões de habitantes. Atualmente apenas 31 por cento dos curitibanos dispões de sistema de esgoto ligado às suas casas, número que deverá se ampliar para 51 por cento nos próximos anos.

 Três dias para sair das cavas

 - O que há de bonito em nós para vocês tirarem fotografias? Assim exprimiam toda a angustia os moradores das cavas do Iguaçu, que ontem estavam desmanchando seus barracos para desocupar o local. Ali será construída a Estação de Tratamento de Esgotos da Sanepar. A Prefeitura deu prazo de três dias para os ocupantes do local abandonarem as casas pois as maquinas já estão trabalhando no desmatamento e escavação. Conforme afirmaram os moradores “caso não saiam nesse prazo, os barracos serão derrubados pelas maquinas”.

  Restam bem poucos barracos em pé, pois estão sendo desmontados em mutirão pelos ocupantes. Muitos estão inconformados de saírem como Florisbela Teixeira da Silva, que há mais de 20 anos morava num dos barracos com o filho. “Eu não quero ir para o Pinheirinho, para onde alguns já mudaram, porque a Prefeitura arrumou um lugar em que não há recurso algum, e há uma comadre minha que até está passando fome. Aqui fica próximo de locais para me empregar e eu gostava tanto daqui”.

  A trouxa amontoada, restos de comida pelos pratos, sujeira, velhice, tudo retrata a miséria e reticente espera dos favelados, que vão aproveitar o caminhão cedido pela Cesbe para levar a mudança para lugar nenhum, “pois não temos para onde ir”.

  Uma mulher grávida, com mais três filhos ao redor, que já nem lembra a quanto tempo sobrevivia no barraco que desabou; as irmãs de caridade que iriam arrumar um local para montarmos nossos barracos sumiram e talvez daqui alguns dias apareçam, porém, aí só encontrarão nossos rastros enquanto estaremos vagando por aí, sem rumo.

  Enquanto isso estão eles amontoando o restante dos trastes com a esperança de que essas irmãs ainda apareçam, pois apesar de tudo eles confiam em Deus a quem clamam já que os homens não ouvem.