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Jornal Diário da Tarde

Transcrição da Edição de 27 de Novembro de 1906 – Pg. 1

                                Notas do dia

            Reeditando a clássica frase, diremos que o sr. dr. Vicente Machado, presidente do Estado, vae reassumir as rédeas governamentaes. Por enfermidade foi s.s. constrangido a arredar-se temporariamente do árduo e elevado posto, onde o colocou a confiança inteiriça da forte agremiação politica dirigida por s.s. mesmo.

            Embora com a preciosa saúde não de todo restabelecida, vae s.s. pôr-se à testa da publica administração. Graves problemas que reclamam urgente solução, aguardam o sr. presidente do Estado.

            Dentre todas as questões de ordem administrativa destaca-se vigorosamente, pela extranha magnitude, a de encanamento d’agua e estabelecimento de rêde de exgottos nesta capital.

            Antes de s.s. passar o governo ao seu legitimo successor, teve inicio a malfadada questão que vae aravessando semanas, mezes, annos sem uma solução qualquer.

            Não precisamos historiar o celebre caso d’agua e exgottos; foi exuberantemente debatido, ficando por essa occasião demonstrado a larga, não só a imperfeição do serviço já feito, como também que o povo tem sido impiedosamente ludibriado e explorado. Não precisamos hitorial-o porque o sr. presidente conhece-o perfeitamente e por certo também deve reconhecer que os contractantes do serviço de agua e exgottos nos passaram, em summa, um conto do vigario.

            Esta expressão, própria de noticias sobre espertezas de illustres cavalheiros de indústria, dissona nesta columna; ella, porem, nos cahiu espontaneamente da penna. Há factos que só teem uma expressão.

            A verdade impõe-se: os contractantes não souberam absolutamente corresponder a confiança do governo paranaense, que os preferiu aliás com censuras da imprensa que desejava tal serviço de saneamento fosse posto em concorrencia.

            Opinamos por esse alvitre e ora não nos recordamos si por ser a concorrencia o meio legal ou si por presentimento do estrondoso fracasso que actualmente presenciamos e que o povo assiste indiferente, sem reclamar e pagando resignadamente, de tal sorte nelle está morta a esperança de se fazer ouvir ou atender.

            Vozes exaltadas conclamam que no caso idêntico em outro qualquer logar provocaria protestos vehementes da população; não somos por movomentos arruaceiros nem pelos recursos violentos, salvo nos momentos extremos, mas confessamos que é precisa extraordinária resignação para deixar tão importante questão correr assim a revelia.

Porque, frizemos bem este ponto, no final de contas é o povo que paga todas as custas, arcando com pezados ônus, satisfazendo o imposto de um beneficio que não recebe. Falharam todas as promessas; venceram-se os prazos para conclusão das obras e não há encanamento d’agua nem rede de exgottos.

Entretanto o thezouro estadoal dispendeu enorme quantia que os contractantes embolsaram e que por certão não mais restituirão.

É este o problema melindroso que o sr. presidente do Estado deve solucionar em primeiro logar e que fica entregue aos talentos administrativos de s.s. e ao grande amor que s.s. tem por esta terra, como bom paranaense que é.