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Jornal Diário da Tarde

Transcrição da Edição de 25 de Julho de 1906 – Pg. 2   

                Saneamento

         Mais uma vez vio o publico o desplante com que o orgam oficial reponde a algumas palavras ditas por uma secção desta folha a respeito das irregularidades do serviço de Saneamento.  Vio, e, como nós, de ter ficado perplexo com o amontoado de censuras com que se pretende desviar a questão!

       O caso em evidencia vem, de há muito, sendo comentado desfavoravelmente pelo povo, que se fio onerado com mais impostos para gosar de melhoramentos, já agora problemáticos, em vista da paralysação dos trabalhos por falta de pagamentos.

       A imprensa nada mais tem leito, sem paixão e sem espirito de partidarismo, do que reproduzir o seu pensamento e fazer-se echo das justas reclamações que elle apresenta.  O povo tem o direito de exigir do governo que lhe diga onde foi empregado o seu dinheiro, ganho à custa de provações e sacrificios de toda a ordem.

      Até aqui nenhuma accusação temos articulado à administração do Estado pelas irregularidades que estão sendo commettidas pelos constractantes na execução dos serviços do Saneamento.  Era, entretanto, muito cabível que a censurássemos pelo modo fácil e inconveniente com que tem aberto a bolsa do Thezouro para entregar aos contractantes TODA OU QUASE TODA A IMPORTANCIA, a que tinhão direito SOMENTE quando concluídos os trabalhos.

      Vir-se-há dizer que nos cofres públicos ainda se acha depositada, pelo menos, a importância da caução, 10% sobre o valor total do serviço contractado, ou sejam 600 contos, do qual o governo pode dispor, no caso de abandono do serviço por parte dos contractantes.  Mas essa importância será suficiente para concluir os trabalhos?

     Peça o orgam official a opinião dos competentes; pergunte aos fiscaes do governo junto à empreza; indague do valor das obras que estão por concluir; procure saber em quanto monta a importância a despender com a aquisição do material que falta para a terminação das obras, e depois venha nos dizer se esses 600 contos são sufficientes para dotar esta capital dos melhoramentos a que fez jus com o dispendio avultado resultante do contracto celebrado.

     A nossa opinião é esta: com o dinheiro restante existente no Thezouro não podem ser concluídos os trabalhos de abastecimento d’agua e rêde de exgottos desta capital.  Novo ônus, portanto, ver-se-há o governo obrigado a impor ao povo, se quiser a realização dos melhoramentos apontados.

     Não é por espirito de opposição que fallamos, não: muito pelo contrario, é com tristeza que lançamos mão da penna todas as vezes que factos deploráveis têm de ser por nós narrados, analysados e criticados, com o fim de satisfazer as exigências do publico e dar cumprimento a esta missão espinhosa da imprensa, constituída, como é de seu dever, em sentinela avançada dos interesses públicos.

        Não são só os adversaros do actual governo do Estado que clamam contra o abuso que estão commettendo os contractantes do serviço; são os próprios amigos da situação que mais pedem que reclamemos do governo, por estas columnas, providencias enérgicas contra o actual estado de cousas referentes à Empreza de Saneamento; são os interesses em jogo de toda uma população que se julga lesada, que bradão por providencias que venhão salval-os e acautela-os.

        Não precisamos, pois de grifos nem de reticencias para dizermos o que sabe o próprio orgam official.