Aguas e esgotos
Ao officio que lhe fora dirigido pelo dr. Claudino dos Santos, secretario de Obras Publicas, sobre a necessidade urgente da filtração das aguas d’esta capital, a Empreza de Melhoramentos respondeu do seguinte modo:
Exmo. sr. dr. secretario de obras publicas. Accuso o recebimento do officio n° 46 de 29 do mez passado, em que v. exc. alludindo à coloração da agua distribuída à população, determina a apresentação, por parte da Empreza, de projecto para a filtração da mesma agua. Em resposta solicito de v. exc. permissão para as considerações que seguem: Como sabe v. exc. e o patriotico governo do Estado, a Empreza veio completar obras realizadas por outrem e já recebidas pela administração, não tendo sido, por isso, incumbido de escolher mananciaes. Accresce que a agua dos mananciaes captados foi considerada, depois de rigorosa analyse em repartição competente, a melhor que se podia obter aqui.
A esse respeito assim se exprime o digno secretario de obras publicas daquele tempo:
“Quanto a qualidade da agua com que vae ser supprida Curytiba, é a melhor que aqui se pode obter. É, pois com razão que o instincto da população volta-se para a agua da serra, cujo exame chimico, corroborando as conclusões do exame feito pelos seus caracteres aparentes, demonstra que ella tem todas as condições de potabilidade, sendo a proporção de matéria orgânica inferior ao máximo permitido, conforme decisão do Congresso de Bruxellas” (relatório de 1904 pag.15). Ora dessa data diante, nem os mananciaes escolhidos foram substituídos, nem a agua soffreu qualquer alteração em sua natureza ou caracteres apparentes.
Ao contrario, de então para cá somente tem a Empreza concorrido para que o liquido chegue a esta cidade em sua inteira pureza, já construindo caixas de areia, consideradas sufficientes para o caso, já levando a efeito a limpeza dos rios captados, já tomando outras providencias, todas tendentes àquelle fim.
Ainda agora está a Empreza concluindo obras dessa natureza na serra, por outro lado, a coloração da agua supprida à cidade (contra a qual não appareceu uma só reclamação ao tempo em que a Empreza a fornecia gratuitamente), sabe v. exc.; é devida às chuvas ou enxurradas na serra, as quaes forçam as sahidas naturaes do liquido, tornando-o menos crystalino e até amarelado. Isso, que não é permanente, da-se igualmente em S. Paulo e em outras localidades, como é sabido, sem que, ao chegar o momento do pagamento do suprimento de agua, aparecesse quem quer que fosse reclamando contra a colorisação della.
Nessas circunstancias, vê v. exc. nem se pode com justiça, levar à conta da Empreza a coloração da agua em época de chuvas, nem pode ella, razoavelmente, fazer mais do que tem feito, para dar rigoroso cumprimento a seu contracto”.
Sabemos que o sr. dr. Claudino Rogoberto Ferreira dos Santos não se conforma com essa decisão da Empreza.