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Jornal Diário do Paraná – Diários Associados

Transcrição da Edição de 24/08/1955 Pg 12

 

                        Não Faltará Água Para a População Curitibana

Como é feira a distribuição de água para Curitiba – Uma caixa dagua que era torre elevadora – Faltam 85.000 metros de encanamentos – Não há verbas para a ampliação – 160.000 construídos em 10 anos – O desperdício causa falhas no abastecimento durante o verão – Curitiba não imitará o Rio – Collhe nossa reportagem informações com o engenheiro do D.A.E., sr. Arnaldo Grassi.

   O DIÁRIO DO PARANÁ já abordou em reportagem anterior a forma como é tratada a água do barrento Rio Piraquara para o abastecimento de Curitiba. Não basta se dizer que a Estação de Tratamento de Curitiba é uma das mais modernas do Brasil e do mundo porque os processos que tornam a água potável são apenas uma medida preparatória da distribuição. Como é feita a distribuição da água em Curitiba? Responder ocasionalmente que ela é feita através de canos, não elucidaria a questão.

            MILAGRE DE PUREZA

   As águas barrentas do Rio Piraquara, bombeadas até a Estação de Tratamento do Tarumã, submetem-se a um milagre de pureza. Tornam-se límpidas e puras, passando a ser uma das águas de melhor qualidade com que são abastecidas as capitais brasileiras.

  Completamente diferente daquele liquido turvo e de mau aspecto que entrara na modelar Estação de Tratamento, sai a água através de tubulações para chamada caixa d’água do Cajurú.

            TORRE ELEVADORA

    Os habitantes do Cajurú e redondezas tinham sempre uma dúvida: - “Como é possível que uma caixa d’água tão pequena abasteça toda Curitiba?”. Na realidade a caixa é de tamanho diminuto e, como todo o abastecimento parte dela, justificava-se a pergunta. Acontece, entretanto, que a “caixa d’água do Cajurú” é verdadeiramente uma torre elevadora, não tendo pois a finalidade que a população presumia.  Sua finalidade é fazer o liquido alcançar as partes altas da cidade, através da elevação conseguida pela torre. O depósito de água, que existe realmente, é subterrâneo e de grande capacidade.

             COMEÇO DO CAMINHO

   Chegando o liquido ao Reservatório do Cajurú, parte vai para a torre de elevação a fim de atender a cidade alta, parte abastece a cidade baixa e o restante, saindo da torre, vai para o Reservatório de São Francisco. Aí origina-se o abastecimento do centro da cidade, além de determinada porção que segue para o outro reservatório existente, o do Batel, que por sua vez abastece a zona do Batel, Seminário e Bigorrilho.

             FALTAM 85.000 METROS

  Quanto a parte da tubulação propriamente dita, do fornecimento de casa em casa, qual é a situação da capital paranaense? Quantos prédios possuem água corrente e quantos se abastecem em poços, arriscando seus habitantes a perigosas moléstias?  Essas perguntas são frequentemente respondidas de forma errada, pensando-se que apenas uma pequena parte da população, talvez um terço, beba água tratada.

   A verdade, entretanto, é que a rêde de Curitiba possue cerca de 325.000 metros, faltando 85.000 metros para que toda a cidade seja abastecida completamente.

            FALTA DE VERBAS

  O principal motivo da não ampliação da rêde é a falta de verbas. Apesar desta falta de amparo financeiro o Departamento aumentou, nos últimos dez anos, de 160.000 metros a rêde existente, o que significa que nesse prazo de tempo a ampliação foi idêntica à sucedida nos restantes 40 anos de existência da rêde.

            ARRANCANDO OS CANOS

  Uma das principais dificuldades encontradas pelos responsáveis pela ampliação da distribuição de água, é a falta de arruamento definido na parte urbanizada da cidade.Muitas vezes, depois de instalados, os condutos de água precisam ser arrancados para dar lugar aos alinhamentos das vias públicas ou serviços de terraplenagem.

            CURITIBA IMITA O RIO

  Apesar dos serviços possuírem capacidade suficiente para abastecer toda a cidade, algumas vezes o curitibano ao abrir uma torneira de sua casa verifica com desgosto que falta água. Seu primeiro pensamento talvez seja:- “Será que Curitiba está tentando imitar o Rio de Janeiro?”.          A ocasional falta de água em Curitiba, porém, nada possue de comum com a existente na capital federal. O termo “ocasional” já define a questão:- enquanto que no Rio a falta de água é permanente, aqui sucede de raro em raro.

   A explicação é muito simples:- a tubulação não tem duração eterna e em determinado momento se rompe, ocasionando a falta de suprimento para a zona ou para algumas casas. Os prédios que possuírem reservatórios domiciliares, as conhecidas caixas d’água existentes no sótão de quase todas as casas, não sofrerão com a falha, logo sanada pelos encarregados do Departamento de Água e Esgôto.

            ENCANAMENTO ANTIGO

  Esses acidentes são mais frequentes no centro da cidade e por um motivo perfeitamente explicável. Os encanamentos da zona compreendida entre as ruas Pedro Ivo, Murici, São Francisco e Barão do Rio Branco e mais as redes da Av. João Gualberto e Rua Cabral são antiquíssimos, necessitando de substituição total, já programada pelas autoridades competentes.

            CONSUMO

   Existe ainda um ponto não focalizado: haverá grandes mudanças no consumo de água durante o ano? Na realidade varia bastante o consumo, subindo de forma sensível no verão, quando certas zonas têm seu abastecimento prejudicado.

   Motivo principal:- desperdício do liquido que, além de servir para dessedentar os encalorados, é usado também para regar jardins e fazer desaparecer o pó das ruas. Nessas épocas é necessário que se economize a água.

   Já foi estudada uma maneira de mesmo no estio não haver falha no abastecimento. Será construída uma barragem de acumulação no Rio Piraquara, que armazenará o liquido durante as chuvas para ser usado durante a temporada das secas. Além disso, a capacidade total da Estação de Tratamento ainda não foi empregada, devido a deficiências nas bombas que recalcam a água da região onde é captada para a citada estação.

   São esperados, porém, até o fim do ano, outros conjuntos de bombas que postos em funcionamento elevarão a capacidade de tratamento da estação de 43 milhões de litros para 60 milhões diários.

           “PRECIOSO LIQUIDO”

   Curitiba, portanto, não imitará o Rio e outras cidades brasileiras em que a água merece realmente o titulo de “precioso liquido”. Presentemente não há falta e não há razão para que se espere no futuro, mesmo considerado o provável crescimento da cidade.  Necessário é que a rêde existente seja ampliada abrangendo toda Curitiba, a fim de que os poços sejam abandonados e a totalidade da população passe a beber uma água pura e sem perigo de eventuais epidemias.