“Uma das preocupações com que assumi as responsabilidades da administração publica, foi a de concorrer para o engrandecimento, em todo o sentido, da nossa prospera e desenvolvida capital.
O primeiro problema pois, a resolver, era o do saneamento. Urgia fazer de Curityba, cujo desenvolvimento é verdadeiramente notável, uma cidade perfeitamente habitável e com todas as condicções de salubridade exigidas nos condensados centros de população.
Com grande previsão e largo descortino do futuro, tínheis votado a lei n. 506 de 2 de Abril de 1903, pela qual ficava o Poder Executivo autorisado a agir, de modo a poder attender aos reclamos e exigências do indispensável emprehendimento.
Dotar a nossa principal cidade, sede do governo do Estado, de um serviço mais ou menos perfeito de uma rêde de exgottos e de abastecimento de agua potável, affigurava-se, aos meus olhos, como cousa inadiável e cuja protellação poderia acarretar desastrosíssimas consequencias para o futuro.
Centro procurado por emigrantes das nações européas, onde as superabundâncias de população e as exigências cada vez mais compressoras do trabalho, obrigam a um êxodo que tanto tem servido para o progresso dos países americanos, o Paraná precisa ter, não só a sua Capital como todas as suas principaes cidades, notadamente as do litoral, bem reputadas pela sua salubridade e gosando effectivamente de todas as commodidades e confortos dos grandes centros civilisados.
Isto está e esteve sempre na consciência de todos. Há porém, muito receio sempre em emprehender, e a executar tentativas de progresso, pela prevenção com que todos os movimentos nesse sentido, são invariavelmente recebidos pela onda dos retardatários, dos ignorantes e dos perversos.
Deveis ter de memoria a campanha de ignara e estupida diffamação, com que foi recebida a primeira empresa, que se propoz a estabelecer em Curityba fossas fixas impermeáveis e a fazer um systema de exgottos dessas fossas, por meio de machinas pneumáticas, - compellido o uso desse systema por medidas da corporação municipal.
Mais de uma vez até a ordem publica da Capital foi ameaçada. Entretando, querendo-se apurar o mérito maior ou menor, dos que teem concorrido para que Coritiba seja até agora uma cidade livre da visita perigosa e devastadora de epidemias, de todo o gênero, o nome do autor da primeira iniciativa – Boaventura Fernandes Clapp, há de ser consagrado com gratidão e reconhecimento. Eu o faço desde já.
Não me preoccuparam, digo-vos com toda a franqueza, as opposições que por ventura surgissem à execução da autorisação que tão sabidamente tínheis condensado na lei 506. Contava com ellas e havia antecipadamente me forrado do espirito de necessária resistência, para vencer.
Consoante ao que pensava e ao proposito que deliberadamente tomei, firmei logo nos primeiros mezes do meu governo o contracto para o abastecimento de aguas e para o serviço de exgottos de Coritiba, com os illustres engenheiros Drs. Alvaro de Menezes e Octaviano Machado, cuja competência já provada pela execução de serviços desse gênero, era solida garantia de sucesso.
Dispensei a concurrencia publica, aconselhada, em regra, pela disposição do art. 142 de nossa Constituição Política. Fil-o desassombradamente e sem receio de que o víbora da callunia pudesse malsinar o meu acto.
Em primeiro lugar, eu tinha concomitantemente de faser contracto para a execução dos serviços technicos e profissionaes, com o contracto da operação financeira para a obtenção dos meios necessários para emprehender a realização desses serviços.
Havia comesinha moralidade administrativa que aconselhasse a licitação da concurrencia publica para um empréstimo ao Estado? Onde iria o nosso crédito? A que alternativas seria elle sujeito? Os bem intencionados que respondam.
Além disso, a concurrencia é apuradora da maior ou menor elevação dos preços, mas como nella se pode apurar a maior ou menor competência technica ou profissional exigida para a realisação de uma obra dessa natureza?
Dispensei-a com a certeza de haver bem comprehendido a situação e inteiramente convencido dos deveres em jogo. Não pensei, nem podia pensar no voserio dos maldizentes... Não pode ser governo e nem abarcar as responsabilidades da administração publica, quem sentir-se esmagado ao peso das suspeitas de que possa claudicar contra a honorabilidade administrativa, e que, pondo a mão na consciência, não possa vencel-as.
O contracto que fiz e que espero chegue, sem incidentes de maior monta, à perfeito e integral cumprimento, quer por parte do governo, quer por parte dos illustres profissionaes contractantes, está sendo executado com cuidado e com intelligente e honesta fiscalisação por parte do Estado.
No relatório do Sr. Secretario do Estado dos Negocios de Obras Publicas e Colonisação, encontrareis com claresa e com detalhes todos os esclarecimentos sobre o assumpto.