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Detalhe do Acervo: Diário da Tarde - Edição de 04/11/1967 - Pg 7

Autor: José Carraro
Titulo: Diário da Tarde - Edição de 04/11/1967 - Pg 7
Data da foto: 04/11/1967
Categoria: SADIA - Queda de Avião
Sub-Categoria: N/A

Transcrição da Página 7 - Edição de 04 de Novembro de 1967

 

Polícia e Exército mobilizam equipe médica para socorrer sobreviventes

 

Várias equipes foram mobilizadas para socorrer os sobreviventes. No Hospital Moisés Lupion da Polícia Militar do Estado, foram internados o comissário de bordo Roberto Monteiro da Fonseca e o engenheiro Oleg Svianghin, atendidos por uma equipe de médicos chefiadas pelo dr. Jouglas Laffite Cordeiro e integrada pelos clínicos José Galbiski, José Domingos de Oliveira, Tufi Patruni, Benedito Pires Cordeiro, Mauricio Faigenblum, Heitor Carlos Moreira, Milton Piza, Pedro Geraldo Ximenes, auxiliados pelos tenentes combatentes Osmar Finkensieper, Delcito Tavares e Fabio Zweibl, tendo os primeiros socorros, no manancial da Serra, sido prestados pelos médicos Renato Martins e Glenio José Barbosa, todos da Polícia Militar do Estado.

Essa equipe permaneceu de plantão desde as primeiras horas da manhã de ontem, para dar toda a assistência aos sobreviventes. Um banco de sangue foi instalado no nosocômio, à disposição do qual ficaram trinta praças da Polícia Militar do Estado, como doadores.

 

FERIMENTOS

Roberto Monteiro da Fonseca encontrava-se em estado de choque, apresentando fratura do crânio, e hematoma sub-conjutival do olho esquerdo, além de fratura exposta na mão direita. Foi submetido à intervenção cirúrgica, o que também ocorreu com o engenheiro da SANBRA, Oleg Svianghin, que sofreu fratura exposta da perna esquerda, contusão do hemitórax esquerdo com lesão perfurada na região axilar, atingindo o pulmão esquerdo, escoriações generalizadas e possível ruptura do intestino. Por outro lado, o rádio telegrafista Leildo Cardoso e a passageira Silvia Tavares estão sob os cuidados médicos no Hospital Militar de Curitiba, tendo sido atendidos pelos médicos major João Nassif e tenente coronel Fernando Carvalho, diretor do estabelecimento. Leildo voa há doze anos como telegrafista, nunca tendo ocorrido um acidente em sua carreira. Trabalha na “SADIA” há aproximadamente cinco anos. É casado, tem 37 anos, sendo natural de Morretes. Mesmo ferido prestou socorros a um dos passageiros, retirando-o do avião. Soube-se que o ferido veio a falecer mais tarde. Leildo conversou com os médicos que o atenderam, passando pelo serviço de raio-X uma vez que haviam suspeitas de que o mesmo sofrera fratura de crânio. Dona Silvia Tavares repousava ontem à tarde, no Hospital Militar, sob o efeito dos anestésicos que tanto pedira. Não corre nenhum risco de vida e seu pai deverá vir de Buenos Aires para vê-la constando que aquele chegou ontem a Curitiba. Por volta das 14 horas o passageiro Armando de Freitas Cajueiro, o último a ser resgatado da Serra do Mar, dava entrada no Hospital Moisés Lupion em estado de choque.

 

LEVANTAMENTOS

Tão logo foi oficializado o acidente com a aeronave da Sadia, o Brigadeiro Délio Jardim de Mattos, comandante da E.O.E.G., designou o Capitão Ramos para apurar as causas do mesmo.

Caberá a ele fazer levantamentos no local do acidente sobre as prováveis causas que teriam levado o aparelho à colisão. Estudos dos registradores que puderem ser encontrados, fornecerão dados preciosos como altitude registrada no momento da colisão, direção e velocidade dos ventos, nível de combustível, frequência sintonizada no momento do sinistro, e possivelmente indicação de localização do aparelho no último instante. Existem possibilidades de serem determinadas eventuais panes nos instrumentos.

O choque da aeronave poderia ter ocasionado a paralização de todos os instrumentos na última referência. Partindo daí, mais as outras informações fornecidas pela torre de controle, a comissão de sindicância poderá fornecer algumas hipóteses para apuração da causa real do acimente. Outra fonte importante de dados, será o relato dos últimos instantes pelos sobreviventes.

 

Passageira desiste na última hora e é salva pela “sorte”

O lugar da passageira Guiomar C. Morais no “Dart-Herald” da SADIA acidentado no Morro do Carvalho foi ocupado no Aeroporto de Congonhas por outra pessoa, cujo nome não se tornou conhecido e que posteriormente ao reconhecimento das vítimas, constatou-se ser o sr. Airton Loter. O lugar continuou reservado no nome da sra. Guiomar, constando da lista oficial fornecida pela agência da Empresa de aviação Paraná. Os motivos pelos quais a passageira desistiu da viagem na última hora, são ainda ignorados, porém prevaleceu o chamado “golpe de sorte”, apesar de ter redundado em horroroso final a trágica viagem.

 

APARELHO MODERNO

Equipado com turbinas Rolls-Royce, e Radar, o “Dart-Herald”, é considerado um dos mais modernos aparelhos aviatórios em uso no Brasil. Esse avião começou a ser usado no país em 1964, podendo alcançar uma velocidade de 450 quilômetros horários, com capacidade de transporte de 46 a 50 passageiros. E abastecido a querosene, podendo operar em qualquer pista, quer seja pavimentada ou não.

 

AS TURBINAS

A turbina do “Dart-Herald” funciona 3.200 horas, entre as revisões que custam em média sete mil dólares cada uma. O aparelho tem um período de depreciação de sete anos.  Foi exatamente em consideração ao problema do custo, que em 1966 a SADIA aposentou seus quatro primeiros DC-3 substituindo-os pelo mesmo número de “Dart-Heralds”.

 

CHEGADA

Aí que coisa horrível. Me deem uma anestesia geral – palavras textuais da Sra. Silvia Tavares, uma das sobreviventes do “Dart-Herald” que se chocou na Serra do Mar, ao ser retirada do helicóptero no qual foi transportada do local do desastre, juntamente com outros três passageiros.

Essa foi uma das muitas cenas de indescritível emoção que se verificaram no Aeroporto Afonso Pena, ontem pela manhã, ao ali aterrar o helicóptero prefixo 8533, do Serviço de Buscas e Salvamento da Força Aérea Brasileira.

Precisamente às 12,05 horas o aparelho pousava em terra, conduzindo quatro dos ocupantes da aeronave, para posteriormente resgatar o último deles. Dezenas de pessoas acompanhavam visivelmente emocionadas os lances da chegada do helicóptero e o desembarque dos sobreviventes. Familiares dos elementos que se encontravam na nave aérea aguardavam ansiosamente o pouso do helicóptero.

Muitos mostravam-se desolados ao constatarem que o parente esperado não chegara e que possivelmente falecera porque restava apenas o transporte e um deles.

 

TRISTEZA

Militares da Base Aérea e do Aeroporto Afonso Pena procuraram interditar o local onde desceu o helicóptero, aproximando-se dali apenas os profissionais da imprensa e os enfermeiros das ambulâncias que se encontravam de plantão para prestar imediato socorros às vítimas. Com as pernas fraturadas, queixando-se de fortes dores, aparelhada, a Sra. Silvia Tavares falava constantemente em sua filha, que pereceu na colisão aérea, juntamente com o marido daquela e mais um filho. Num ambiente de muita tensão, com os militares apressadamente desembarcando os feridos e escusando-se de dar informações à imprensa, os quatro sobreviventes foram embarcados em ambulâncias que se encontravam no “Afonso Pena”.

Além de dona Silvia, chegaram em primeiro lugar o comissário de bordo Roberto Monteiro Fonseca, o engenheiro Oleg Svianghim e um quarto cuja identidade não foi possível estabelecer na ocasião por se encontrar em estado de coma. Esse último, bem como o comissário Roberto tem poucas possibilidades de sobreviver, enquanto o estado de saúde dos demais era satisfatório, com a mulher apresentando as melhores condições, em relação aos demais. Predominava na ocasião a tristeza entre todos quantos ali se encontravam.

 

ESPERANÇA

Entre os familiares das vítimas achavam-se no Aeroporto Afonso Pena o Sr. José Marcos Pagliuso, esposo da senhora Clarisse Marcos Pagliuso, que também encontrou morte trágica com os outros 21 passageiros. Depois de serem conhecidas as identidades dos quatro preliminarmente resgatados, Pagliuso esperava que a sua mulher fosse a quinta ainda com vida, desconhecendo a realidade da situação. Dona Clarisse vinha de São Paulo e deveria desembarcar em Toledo, onde marcara o encontro com o marido que dada a fatalidade não veio a se registrar. Até o último momento ele pensou que ela estava com vida, ficando fortemente deprimido ao se inteirar de tudo. Aguardou no campo de aviação o retorno do helicóptero, certificando-se então da morte da esposa, que foi expelida para fora do turbo-hélice, encontrando morte horrível.

 

ASSITÊNCIA

Como não podia se locomover e nem deitar-se, a Sra. Silvia Tavares foi removida do helicóptero nos braços do capitão Alberto Valeixo, chefe do Serviço de Proteção ao Vôo, do Aeroporto Afonso Pena. Desse foi imediatamente removida ao Hospital Militar de Curitiba, no alto da Av. Vicente Machado.

Juntamente com o comissário de bordo Roberto, foi ela encaminhada à sala de cirurgia do nosocômio, submetendo-se a intervenção. Seu estado de saúde já não inspira cuidados o que não acontece com o tripulante, que se encontra entre a vida e a morte, em estado de coma. Dona Silvia, acompanhada do marido e dos dois filhos, vinha ao Paraná, apara assistir o enlace matrimonial da irmã caçula.

  

Vítima do acidente seria testemunha do casamento da irmã

O engenheiro Calvy Tavares Filho, que pereceu no pavoroso acidente de sexta-feira última na Serra do Mar, com um avião da Sadia, era paranaense de nascimento sendo filho de Calvy de Souza Tavares e Narcisa Regastieri Tavares, atualmente residentes em Mafra, Santa Catarina. Era casado com a sra. Silvia Rodrigues Tavares uma das sobreviventes e há 12 anos residia em São Paulo, a rua Maranhão, 1019. Era formado pelo Instituto Politécnico, onde sempre obteve o 1º lugar inclusive quando prestou exame vestibular. Foi ganhador do prêmio Esso por duas vezes e frequentou vários cursos no Exterior e ultimamente estava se preparando para fazer uma viagem a Paris. Os dois filhos do casal, Marcos com 3 anos e Gisele com 2 anos pereceram também no acidente. O eng. Calvy contava com 30 anos de idade.

 

CASAMENTO

O engenheiro Calvy Tavares Filho acompanhado de sua família embarcou na manhã de sexta-feira no avião da Sadia, com destino a nossa cidade a fim de testemunhar hoje o casamento de sua irmã Celzi Tavares, pois era padrinho de cerimônia religiosa. Sua irmã na sexta-feira havia casado no civil, na cidade de Mafra. A cerimônia religiosa estava marcada para o dia de ontem, bem como a festa. Realizou-se somente o casamente religioso.

 

Fonte da Pesquisa: Diario da Tarde – Arquivo Digital – Biblioteca Nacional Digital Brasil.

http://memoria.bn.br/hdb/periodico