Transcrição da Matéria de Capa – Edição de 05 de Novembro de 1967.
APENAS 4 SOBREVIVEM À TRAGÉDIA
No momento que encerrávamos a presente edição morria às 23 horas, no Hospital da Policia Militar, o quinto sobrevivente do desastre aviatório do Morro da Represa, o engenheiro Olleg Scianghim, enquanto, até aquele horário, ainda passavam mal o homem de negócios Armando Cajueiro e o comissário de bordo Roberto Fonseca, dois dos outros ocupantes do aparelho. Apenas estavam fora de perigo dona Silvia Tavares, que perdeu o marido e filhos e o rádio-operador Leido Cardoso.
Com a morte do quinto sobrevivente, sobre a 21 o número de mortos no desastre ocorrido com o “Dart-Herald” na Serra do Mar. Armando Cajueiro e Roberto Fonseca estão internados no Hospital da Policia Militar do Estrado, enquanto dona Silvia Tavares e Leildo Cardoso encontram-se no Hospital Geral do Exército.
Nas primeiras horas da manhã os homens da COE chegaram ao local onde estava o aparelho sinistrado, iniciando de imediato a operação de remoção dos sobreviventes.
Ao clarear do dia, o helicóptero, comandado pelo major Heins Obrecht levantou vôo do “Afonso Pena” e dirigiu-se ao local, tendo pousado no chapadão existente no Morro da Represa. Ali permaneceu até que melhorassem as condições atmosféricas para resgatar os sobreviventes. O comandante informou que não pode pousar no local, mas simplesmente pairar a alguns metros do chão, sendo que o pessoal da COE teve que erguer em macas os corpos dos sobreviventes.
Supõe-se que o acidente ocorreu, em virtude dos fortes ventos que assolavam a Serra do Mar e em virtude da visibilidade precária. Nada menos que quatro inquéritos serão instaurados para apurar as causas do desastre, sendo uma pela FAB, outro pela SADIA, um terceiro pela companhia seguradora e um quarto pela companhia que fabrica os aparelhos “Dart-Herald”.
Cenas dramáticas foram vividas por todos que lidaram com os acontecimentos. Esgotados de fadiga, fome e sono, após terem erguido o último sobrevivente ao helicóptero que o trouxe a Curitiba, a equipe de buscas e salvamento da COE encerrou seus trabalhos.
O resgate final dos corpos será efetuado somente hoje ao clarear do dia. Segundo o depoimento dos enviados especiais do DP, que estiveram no local, o aparelho, após chocar-se violentamente com o topo do morro, deixou um rastro de aproximadamente roo metros. Os primeiros a encontrar os destroços foram o cabo Sebastião e o mateiro Lachnan, dando 3 tiros para o alto, a fim de avisar a outra equipe da COE. Todos os presentes ficaram chocados ao verem o quadro dantesco, inclusive com montes de cadáveres em vários locais.
Mas um dos maiores dramas foi vivido por d. Silvia Tavares, que perdeu o marido e um casal de filhos menores. “Já nada mais importa – disse ela – agora está tudo perdido”. Dona Silvia teve as duas pernas quebradas no acidente e foi a que menos sofreu entre os sobreviventes.
O DIARIO DO PARANÁ designou doze repórteres e fotógrafos para fazer a cobertura dos acontecimentos relativos ao acidente aéreo. Cenas aterradoras, e também de grande solidariedade humana. O resultado deste trabalho de folego, relatos pessoais sobre a tragédia, a relação dos mortos, os momentos vividos por todos que participaram dos acontecimentos e tudo o mais está na página 8 do 1º caderno, e nas páginas 1 a 5 e 8 do 2º caderno.
Legenda Foto 2
Dona Silvia Tavares é retirada do helicóptero, após momentos dramáticos vividos no topo do Morro da Represa. Ela disse, quando socorrida, após perder o marido e 2 filhos, que agora nada mais importa, pois “não faz sentido”.
Legenda Foto 1
Os homens da COE foram os primeiros a chegar ao local dos destroços e foram acompanhados pela equipe do DIARIO DO PARANÁ. O aparelho, após chocar-se ao topo do morro, deixou um rastro de 500 metros, distribuindo cadáveres, roupas malas e vinte pessoas sem vida.
Fonte da Pesquisa: Diario do Paraná – Arquivo Digital – Biblioteca Nacional Digital Brasil.