X

Fale Conosco:

Aguarde, enviando contato!

Detalhe do Acervo: Diário do Paraná - Edição de 07/11/1967 - Caderno 1 - Pg 9

Autor: José Carraro
Titulo: Diário do Paraná - Edição de 07/11/1967 - Caderno 1 - Pg 9
Data da foto: 04/11/1967
Categoria: SADIA - Queda de Avião
Sub-Categoria: N/A

Transcrição da Página 9 do Primeiro Caderno – Edição de 07 de Novembro de 1967.

 

TRIPULAÇÃO PENSAVA ESTAR SOBRE CURITIBA, DIZ O RÁDIO-OPERADOR

Falando com muito esforço nos raros momentos em que consegue recuperar a consciência, o rádio-operador Leildo Cardoso, o mais importante dos sobreviventes do desastre para as comissões que apuram as causas da queda do avião, esclareceu, aos poucos, os motivos pelos quais o “Dart-Herald” bateu no morro da Represa. Internado no Hospital Geral de Curitiba, raramente consegue balbuciar algumas palavras, assistido pelo seu irmão, Lourival Cardoso, que durante vinte anos foi rádio-operador de vôo da Panair do Brasil. Ambos nasceram em Morretes.

O PP-SDJ voava normalmente, segundo Leildo, mas sem visibilidade, recebendo as angulares para o pouso, transmitidas pela torre de “Afonso Pena”.  Pelo altímetro da aeronave, deviam estar a duzentos metros acima do nível do aeroporto.

 

“Bloqueio Falso”

Feito o “bloqueio falso” pelo radiogoniômetro, continuou Leildo, o avião ia entrar na “perna de vento” para o pouso. Leildo disse que estava na escuta da torre, não tendo recebido nenhuma instrução especial da cabine do comandante. Não havia, também, indícios de falhas nos instrumentos. Quando supunha que o avião ia entrar na “perna de vento”, houve o choque.

Leildo disse, também, que embora bastante ferido, teve tempo de retirar seu colega, comissário Roberto Monteiro da Fonseca, perdendo os sentidos em seguida. Lembra-se ainda, que tentou retirar dona Silvia Tavares dos escombros. Sua esposa não acredita que ele esteja vivo. Para provar, seu irmão Lourival escreveu um bilhete que ele assinou com a mão esquerda, pois a direita está fraturada. Sua esposa não veio a Curitiba e está no Rio, pois depois do desastre, ficou com receio de viajar de avião.

 

Inquérito Dirá as Causas em 8 Dias

O capitão Eduardo da Silva Ramos, integrante da Comissão de Inquérito da FAB, que investiga as causas do acidente do PP-SDJ disse que os trabalhos já foram iniciados. Acrescentou que dentro de oito dias, no máximo, poder-se-á saber exatamente sobre o que motivou o desastre aéreo. Às 14h30m, a comissão, presidida pelo coronel Telmo Torres Aires, capitão Jorge Saliba e Eduardo da Silva Ramos, tentou pousar no local do acidente para recolher as peças do “Dart-Herald”, visando a constituição do laudo técnico a respeito das caudas do acidente. O mau tempo, entretanto, evitou que o H-1D pudesse pousar, o que deverá ocorrer hoje.

“Não houve falhas da tripulação e nem da aparelhagem técnica de bordo”, disse o coronel Telmo Torres Aires, emitindo uma opinião pessoal, e sem caráter oficial, porque o inquérito não estará concluído antes de uma semana.

 

Foi o “Bloqueio Falso”

Acrescentou o presidente da Comissão de Inquérito ainda que “a hipótese mais provável é a do “bloqueio falso”. Ou seja, a manobra que deveria ser feita à cabeceira da pista do aeroporto Afonso Pena foi feita sobre a montanha, a 30 quilômetros de Curitiba. Instrumental de vôo, peças retiradas dos destroços e depoimento do rádioperador Leildo Cardoso, deverá constar como peça importante para a comissão. “A FAB está procurando saber as causas do desastre e manterá o H-D1 em Curitiba para ir até o Morro da Represa ainda hoje deverá terminar o trabalho no local”, acrescentou.

 

Inglês Acha que é Ouro

Em declarações prestadas na Guanabara, o engenheiro Eric Hebolt, representante da Rembley Beatch, firma fabricante do “Dart-Herald” acidentado, disse que a existência de jazidas de ouro ou ferro na Serra do Mar podem ter sido a causa do desastre aviatório. Antes de embarcar para Curitiba, onde fará um relatório para a empresa fabricante dos “Darts” sobre a tragédia, o sr. Eric Hebolt disse que “se o aparelho estivesse voando 10 metros mais alto, o acidente não teria ocorrido”.

Acrescentou que “tais jazidas de ouro ou ferro emitem raios magnéticos que atrapalham o funcionamento da aparelhagem do radar dos aviões, denunciando o falso bloqueio do aeroporto”.

 

Seguro já Atua

Os membros da comissão da companhia de seguros que deverá pagar 21 milhões por cada pessoa morta no acidente, já estão no morro da Represa para identificar as causas do acidente.

Já os técnicos da SADIA deverão concluir seus trabalhos até o fim da semana, estando sendo considerado o depoimento do rádioperador de bordo, Leildo Cardoso, como de capital importância.

 

Expressa Pesar a Fontana

S. PAULO (Meridional – DP) – O deputado Edmundo Monteiro, diretor dos “Diarios e Emissoras Associados”, dirigiu ao comandante Omar Fontana e demais diretores da SADIA S.A. Transportes Aéreos a seguinte mensagem:

“Em meu nome e no de toda a família “Associada”, venho externar os meus sentimentos de profundo pesar e a minha solidariedade aos ilustres amigos dessa prestigiosa empresa de viação comercial brasileira, que se ergueu e se projetou no cenário nacional com tantos esforços e sacrifícios do meu grande amigo Omar Fontana e de seus mais dedicados colaboradores.

Os “Diarios Associados” querem apresentar de público, também as suas sinceras condolências às famílias dos tripulantes e passageiros desaparecidos na infausta ocorrência”.

Respeitosamente,

(Ass.) Edmundo Monteiro

 

Eis o Resumo dos Fatos Até Domingo

O “Dart Herald”, procedente de São Paulo, com escala em Curitiba, caiu, às 9h18m, no topo da Represa na Serra do Mar, com 25 pessoas a bordo, não havendo, de início, indícios de sobreviventes. O aparelho, após uma operação de buscas, sem precedentes, foi localizado às 15h17m pelo comandante Coadamir Alamir, da BOA.

Se o PP-SDJ tivesse a uma altura de poucos metros mais, não teria batido no morro, passando normalmente, repetindo-se o que aconteceu com o avião da FAB, que caiu em princípios do ano com o comandante da 5ª Região Militar.

Os homens do Corpo de Operações Especiais da Policia Militar, às 16h15m de sexta-feira, partiram por via terrestre para verificar se havia sobreviventes, chegando ao pé do morro da Represa às 19 horas daquele mesmo dia. Às 6h30m de sábado, os homens do COE chegaram ao local dos destroços, verificando de início que havia cinco sobreviventes, mas na realidade eram mais, tendo morrido pouco depois.

Os cinco sobreviventes foram transportados para Curitiba, sendo internados no Hospital “Moisés Lupion” e no Hospital Geral de Curitiba. Um deles, o engenheiro Olleg Scianghim morreu às 23 horas de sábado no hospital, sendo transportado, no dia seguinte, para São Paulo.

Restava somente trazer os cadáveres que, ainda no domingo, se encontravam no local. Na impossibilidade de sem removidos por helicóptero, foram chamados os homens do Corpo de Bombeiros para traze-los por terra. Chegaram na manhã de ontem, sendo logo depois, removidos para as cidades de origem. Das quatro comissões de inquérito para verificar as causas do desastre, duas já estão funcionando.

Fonte da Pesquisa: Diario do Paraná – Arquivo Digital – Biblioteca Nacional Digital Brasil.

http://memoria.bn.br/hdb/periodico